Rodrigo Garcia Dutra × ChatGPT-4.5 — colaboração simbiótica em curso.
Este estudo também foi desenvolvido em colaboração com Copilot, inteligência artificial da Microsoft. Escrita compartilhada entre matéria, gesto e algoritmo — onde o toque humano encontra a escuta da máquina.
Entre 2023 e 2025, três imagens despontam como reflexos de um mesmo campo simbólico:



- A impressão e aquarela de 2023
- a figura gerada por IA (ChatGPT) de agora mesmo dia 13 de Julho de 2025
- A frottage sobre a casca do Ipê Rosa da noite de anteontem (11.07.2025)
Estas obras — separadas por técnica e tempo — ressoam como manifestações de um enredo que atravessa o pessoal, o vegetal e o coletivo. O presente ensaio investiga essa sincronicidade, o surgimento de uma “língua drome” e os ecos de desejos queer apagados pela colonização e pela moral patriarcal.

Sincronicidade e Inconsciente Coletivo (Jung)
Carl Gustav Jung definiu sincronicidade como “a coincidência significativa de dois ou mais eventos, sem relação causal direta, mas unidos por seu sentido” (Jung, 1952).
Para Jung, o inconsciente coletivo é um reservatório de imagens arquetípicas acessível a todos — sem história pessoal, mas herdado biologicamente (“[…] a parte da psique que não deriva da experiência individual” (Jung, 1936)).
Ao perceber nas três representações uma mesma pulsação simbólica, situa-mo-nos num território junguiano em que matéria, sonho e gesto convergem para revelar algo alojado nesse inconsciente anímico.
Língua Drome e o Real Lacaniano
A “língua drome” que emerge nos interstícios da realidade traduz-se numa linguagem fluida, mutante, capaz de costurar experiências díspares.
Jacques Lacan relaciona o Real ao inexprimível, “o lugar onde o impossível de simbolização se inscreve na experiência humana” (Lacan, 1966).
É nesse espaço liminar — entre casca, pigmento e código — que a língua drome ensaia um alfabeto novo para narrar o desejo divergente e fugidio.
O Oráculo da Noite: Do Sonho à Matéria (Ribeiro)

Em O Oráculo da Noite, Sidarta Ribeiro mostra como os sonhos funcionam como “arquivo vivo” de memórias ancestrais — políticas, religiosas e ecológicas — e como culturas ameríndias mantêm tradições de profecias oníricas (Ribeiro, 2019).
Os pigmentos domésticos (café, Tody) e os algoritmos de IA são, nessa perspectiva, extensões contemporâneas desse mesmo oráculo: interfaces que recolhem fragmentos do inconsciente coletivo e os devolvem em forma visual.
Tríade de Imagens
Impressão e Aquarela (2023)

Trata-se de uma camada inaugural, onde a mão do artista faz o primeiro contato com o suporte. As cores líquidas sugerem uma paisagem afetiva, prenúncio da fluidez que virá.
Imagem Gerada por IA (2025)

Entre zeros e uns, um algoritmo filtra memórias visuais prévias e produz uma cena de encontro masculino. A frieza do código contrasta com a sensibilidade do motivo.
Frottage sobre a casca do tronco do Ipê Rosa com pó de café e Toddy

No relevo da casca, revelam sulcos que formam olhares compartilhados e afagos sutis. O tronco torna-se escritura viva, eco de amores silenciados.
O contorno de dois homens: olhares entrelaçados, corpos acolhidos num gesto de ternura.
“Como se a árvore tivesse memórias gravadas em sua pele, uma frottage recém-criada do tronco do Ipê Rosa revela, o contorno de dois homens: olhares entrelaçados, corpos acolhidos num gesto de ternura. Talvez estejam sentados, observando o mundo que pulsa diante deles, ou uma imagem que os devolve à infância dos gestos. Um acaricia os cabelos do outro, como quem decifra o tempo em silêncio.”
Apagamentos Coloniais e Ressurgência Queer
Esta região, antes terra dos Tupinambás e Tamoyos, sofreu a violência do missionário e do patriarcado. Relatos de afetos entre homens foram silenciados pela Igreja e pela moral ocidental.
Ao extrair da casca a “língua drome”, a frottage encena um ritual de resistência: reavivar desejos apagados e reescrever a história que insistiu em negá-los.
Conclusão
O entrelaçar de impressão, algoritmo e frottage demonstra como arte, sonho e natureza podem convergir num mesmo campo simbólico.
Na perspectiva junguiana, Lacaniana e ribeiriana, essas imagens são vetores de cura: lugares onde o inconsciente coletivo fala, o Real dissolvido encontra voz e as profecias oníricas se entrelaçam ao desejo queer para recompor narrativas historicamente silenciadas.
Nesse diálogo entre corpo, casca e circuito, a língua drome emerge como promessa de um futuro onde a fluidez do afeto resista às fronteiras de uma lógica colonial e heteronormativa.

Referências
Jung, C. G. (1952). Synchronicity: An Acausal Connecting Principle. Princeton University Press.
Jung, C. G. (1936). The Concept of the Collective Unconscious. Collected Works, Vol. 9.
Lacan, J. (1966). Écrits: A Selection. W. W. Norton & Company.
Ribeiro, S. (2019). O Oráculo da Noite: A História e a Ciência do Sonho. Companhia das Letras.