É curioso como, em pleno século XXI, ainda se insiste em tratar a sexualidade humana como uma simples “escolha”. Como se fosse possível acordar num dia e pensar: “Hoje serei gay. Amanhã, talvez hétero. Semana que vem, quem sabe bi.” Essa ideia não apenas ignora décadas de pesquisa científica e de vivência humana, como também perpetua um discurso prejudicial e excludente.
Tratar orientação sexual como opção é conveniente para quem se recusa a lidar com a diversidade humana. É mais fácil julgar, marginalizar e tentar “converter” quando se acredita que há uma decisão envolvida. Mas a realidade é bem outra: ninguém escolhe por quem se sente atraído, assim como ninguém escolhe seu tipo sanguíneo ou sua estrutura óssea. O desejo, a identidade e a afetividade brotam de dentro — fruto de fatores biológicos, psicológicos, sociais e até culturais, mas nunca como resultado de uma decisão racional.
A gente cresce ouvindo que sexualidade é uma escolha, como se fosse possível decidir por quem vamos sentir atração — mas isso não é verdade. A atração não é uma decisão racional, não é uma preferência consciente, não é como escolher uma roupa ou um sabor de sorvete. Ela surge de dentro, espontaneamente, de forma muitas vezes misteriosa. É como um impulso natural, que faz parte de quem somos desde sempre.
A ciência mostra que fatores genéticos, hormonais, psicológicos e sociais influenciam a sexualidade, mas não a determinam no sentido de ser uma escolha. Às vezes, o desejo simplesmente existe, sem explicação fácil — porque o cérebro, que é o maior órgão sexual que temos, ainda guarda muitos segredos.
Como o próprio universo, o desejo é cheio de nuances, fantasias e sentimentos que escapam da lógica comum.
Se ensinaram que é possível escolher a orientação sexual, ensinaram errado. Ninguém escolhe ser hétero, gay, bi ou qualquer outra coisa — apenas descobre, aos poucos, quem é. E viver com sinceridade esse sentimento é um ato de coragem e dignidade.
E mais uma vez, a ciência é clara nisso: pesquisas em neurociência, genética e psicologia apontam que a sexualidade é multifatorial e que não há evidência de que seja uma escolha voluntária. Inclusive, a própria noção de “cura gay” já foi amplamente repudiada por instituições sérias como a Organização Mundial da Saúde.
Afinal, não se pode “curar” aquilo que não é doença — e tampouco se pode “ensinar” alguém a sentir desejo por algo que não lhe desperta interesse.
É preciso dizer com todas as letras: essa ideologia que prega que sexualidade é escolha não apenas está equivocada, como perpetua violência simbólica, exclusão social e sofrimento psíquico. Ela é construída sobre medo, desinformação e, muitas vezes, sobre dogmas religiosos que não conseguem dialogar com a realidade complexa da experiência humana.
A sexualidade não precisa de permissão para existir. Ela acontece — com ou sem aceitação. Mas atenção: toda vivência afetiva e sexual deve ser baseada em consentimento mútuo. Sentir desejo por alguém não te dá direito sobre esse alguém.
Atração não é um salvo-conduto para atravessar limites. Se a pessoa não deu abertura, insistir é assédio — e se isso evolui para agressões verbais, físicas, morais ou psicológicas, estamos falando de ABUSO da pior espécie.
Consentimento é mais do que um “sim” — é presença, vontade, reciprocidade e liberdade. Amar é humano, mas respeitar é urgente. E quem insiste em negar isso, está escolhendo a ignorância sobre o mistério mais fundamental da nossa existência: quem somos e o que nos move e o que move o outro.