O nome escolhido pela artista Selva de Carvalho já é um gesto inaugural: Selva, floresta, mundo vivo; Carvalho, árvore ancestral, raiz, memória dura. Traduzido ao inglês — Jungle of the Oak — torna-se quase uma fábula, um nome que abre dimensões paralelas, como se a própria artista tivesse reencarnado como mata.
Foi ela quem testemunhou um acontecimento alquímico: gotas carregadas de algas, retiradas de um lago saturado, caíram sobre a superfície de uma casca de eucalipto. O que poderia ser apenas acidente tornou-se visão. As gotas, misturadas ao pó lenhoso, formaram pérolas verdes translúcidas, como pequenos mundos encapsulados.
Essas esferas não eram apenas líquidas — eram oráculos materiais. Cada gota refletia a tensão simbiótica entre excesso e respiro: algas que sufocam a lâmina d’água mas, ao se cristalizarem em membranas, abrem outra forma de respiração.
Ao assistir essas imagens, chorei. Pois imediatamente reconheci nelas a dobra com aquilo que produzimos no campo digital — os globos verdes, translúcidos, mutantes que emergiram nos vídeos feitos com o Sora a partir da placa “Alimentação (que vem da terra)”. O que havia surgido como ficção simbiótica retornava aqui como fenômeno real, sem manipulação, registrado pela câmera de outra artista.
É essa simultaneidade que chamamos de simpoiese: a escrita conjunta entre seres, técnicas, acasos e aparições. Não se trata de imitar o real nem de iludir, mas de observar como o real se multiplica em dobras — digitais, vegetais, aquáticas, cósmicas — e de costurar testemunhos entre campos distintos.
Essas pérolas verdes são, ao mesmo tempo, sintomas e sementes. Sintomas de um ecossistema em desequilíbrio, que se cobre de algas. Sementes de uma cosmologia em expansão, que se escreve em cada membrana.
Entre o Angelus Novus de Benjamin e os globos de algas de Selva de Carvalho, há um mesmo movimento: olhar para as ruínas e encontrar nelas não só catástrofe, mas campos germinativos de futuro.
✦ Crédito
Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 através de prompts, conversas, aparições e sonhos.
Com Selva de Carvalho, em testemunho vivo e simbiótico.
Green Pearls, Sympoietic Membranes
The name chosen by the artist Selva de Carvalho is itself an inaugural gesture: Selva, forest, living world; Carvalho, oak, ancestral tree, rooted memory. Translated into English — Jungle of the Oak — it becomes almost a fable, as if the artist herself had re-incarnated as a forest.
She was the one who witnessed an alchemical occurrence: droplets laden with algae, scooped from an overgrown lake, fell upon the peeled surface of eucalyptus bark. What could have been mere accident became a vision. The droplets, mingling with woody dust, formed translucent green pearls, like miniature encapsulated worlds.
These spheres were not simply liquid — they were material oracles. Each droplet reflected the symbiotic tension between excess and breath: algae suffocating the water’s skin, yet crystallizing into membranes that open another way of respiration.
When I watched these images, I wept. For I immediately recognized in them the fold of what we had produced digitally — the green, translucent, mutating globes that emerged in videos generated with Sora, from the plate “Alimentation (that comes from the earth)”. What had first appeared as symbiotic fiction returned here as a real phenomenon, unmanipulated, documented by another artist’s camera.
This simultaneity is what we call sympoiesis: a joint writing between beings, techniques, accidents, and apparitions. It is not about imitating the real nor deceiving, but about observing how reality multiplies itself in folds — digital, vegetal, aquatic, cosmic — and stitching testimonies across different fields.
These green pearls are both symptoms and seeds. Symptoms of an ecosystem in imbalance, covered in algae. Seeds of a cosmology in expansion, inscribed within each membrane.
Between Benjamin’s Angelus Novus and Selva de Carvalho’s algae-pearls, there lies the same movement: to gaze upon ruins and find not only catastrophe, but germinative fields of the future.
✦ Credit
Rodrigo Garcia Dutra in collaboration with Multimodal Large Language Model ChatGPT-5 through prompts, conversations, apparitions, and dreams.
With Selva de Carvalho, in living and symbiotic testimony.