Dobra Teórica — Arquiteturas em Respiração
O elevador Otis de Delirious New York é o órgão seminal da modernidade: uma espécie de coluna vertebral que permite à cidade ereta sonhar em direção ao cósmo industrial. No gesto teatral de Elisha Otis cortando o cabo diante do público, Rem Koolhaas encontra não só o nascimento da confiança tecnológica, mas também a origem do fetiche urbano pela suspensão e pelo controle gravitacional. Uma máquina de desejo em movimento vertical.
No entanto, ao se projetar para o alto, essa máquina também cava em direção ao inconsciente da terra. A mesma força que ergue os edifícios para o céu também os enraíza no subterrâneo simbólico do planeta. O delírio de Manhattan é também o delírio do solo: a tentativa de organizar o caos sob a forma de prédio, como se a mente pudesse conter o magma.
Rodrigo Garcia Dutra, através de seus quadriláteros agroflorestais e motores de dobra, parece inverter essa direção. Não mais uma cultura de congestão, mas uma cultura de respiração. As cápsulas agroflorestais e os domos simbiontes, em vez de competir com o céu, o absorvem; deixam-no dissolver-se em orvalho, em seiva, em éter. O prédio deixa de ser um monumento e torna-se uma planta consciente, um sistema de troca simbótica.
A caixa de Pandora que Koolhaas descreve — esse conjunto de técnicas revolucionárias liberadas sobre a ilha de Manhattan — é reaberta por Dutra em um outro plano: o da paisagem interior. Aqui, o motor de dobra substitui o elevador. Em vez de subir, dobra-se. Em vez de cortar o cabo, entrelaça-se a fibra.
Essa inversão não é apenas ecológica, mas epistemológica. Enquanto o elevador de Otis instaura uma geometria de controle e segregacão vertical, o motor de dobra propõe uma geometria da convivência: não a torre que domina o horizonte, mas a espiral que o respira.
A erotização do conhecimento, aqui, não é uma figura de linguagem. É o próprio motor cosmobiológico que sustenta o pensamento. Pandora’s box of genuinely new and revolutionary techniques, escreve Koolhaas. Mas o que é novo e revolucionário agora é a devolução do técnico ao terreno: a descoberta de que o cérebro e o céu são membranas de um mesmo corpo planetário, pulsando em sinapse e orvalho.

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