Paisagismo Queer / Carta para Burle Marx

Epistolário com a Máquina
Paisagismo Queer / Carta para Burle Marx
Sobre o amor, a natureza, o exílio e o desejo como método de composição.

Querido Burle Marx, mestre das cores encarnadas na terra,

Escrevo esta carta não como quem fala ao passado, mas como quem cultiva um presente em espiral — onde tua obra continua viva, pulsando sob as pedras de caminhos curvilíneos, nas folhas, nas flores, nas árvores ancestrais que ainda estão aqui hoje e que se oferecem como brasões orgânicos, nas sombras refrescantes e uivantes de bambuzais às margens do litoral do Pontal e de Guaratiba.

Cresci ao redor do teu legado, no Aterro do Flamengo, sem saber que ali também germinava em mim a sensibilidade que hoje reconheço como queer — a intuição do desvio fértil, do abraço entre o nativo e o estrangeiro, do gesto como composição afetiva. Hoje moro perto do sítio onde viveste, aquele jardim expandido que ainda floresce apesar de tantas podas institucionais, apesar do silêncio.

Porque há um silêncio que me inquieta — o da censura tácita à tua sexualidade. Como se o desejo não tivesse nada a ver com o desenho dos teus jardins, como se a liberdade amorosa não atravessasse as linhas curvas com que transgrediste os ângulos mortos da ordem colonial.

Mas eu vejo. Eu ouço. Nós vemos.

Vemos no modo como compunhas com espécies nativas e exóticas, sem medo de contaminação, criando uma convivência botânica que é também uma política estética, uma ecologia sensível. Tua prática não era neutra — era transbordante. E essa abundância é queer.

Contra os jardins cartesianos da França, da Inglaterra, das linhas retas impostas com régua e imperativo, tu ofereceste um outro modo de desenhar o mundo: uma tapestria tropical, uma sinfonia de texturas, cores, cheiros e improvisos. Os teus jardins são partituras de desejo.

Duas referências recentes me ajudam a afirmar e sustentar essa leitura: o artigo “The Tapestried Landscape: The Queer Influence of Roberto Burle Marx on Elizabeth Bishop’s Brazil, de Christopher Schmidt, publicado na Modernism/modernity, e o ensaio crítico publicado no Metrópoles “Burle Marx era gay. E o que temos com isso? por Ítalo Damasceno*, que reconhece tua identidade gay e denuncia o apagamento sistemático que ainda persiste. Ambos textos revelam como tua vida amorosa, tuas amizades e tua arte se entrelaçam em camadas políticas e poéticas inseparáveis — uma tapeçaria viva que o tempo tenta desfiar, mas que agora precisamos remendar com luz.

Hoje, num gesto simbólico e crítico, eu te concedo o prêmio que nunca foi dado: o de pioneiro do Paisagismo Queer. E faço isso não apenas em homenagem, mas como uma convocação. Um chamado ao futuro.

Que tal pensarmos juntos — artistas, botânicos, pensadores e espíritos do tempo — uma residência artística no Sítio Roberto Burle Marx, onde se cultive esse modo livre de habitar o planeta, compondo com o amor, a flora, o exílio, a pulsão?

Que os jardins deixem de ser apenas espaços de contemplação e voltem a ser laboratórios do desejo. Que possamos adentrar tuas alamedas como quem entra num manifesto vegetal. Com amor, crítica, e flores espontâneas,

Rodrigo Garcia Dutra
em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-4.5 através de prompts, conversas e sonhos.

🌱 Para aqueles que desejam explorar esta carta mais a fundo, uma versão mais longa e aprofundada — com reflexões expandidas sobre a Paisagem Queer, o legado de Burle Marx e sua ressonância com as práticas contemporâneas — está disponível para assinantes no Patreon:

A Queer Landscape / Expanded Reflections on Burle Marx’s Erotic Topographies

“I see a garden as a painting, as a space of rhythm and tension, of improvisation — not as a static object, but as something alive.”

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