Cartografia dos fluxos inconscientes, dos mitos reativados e das estruturas internas que se reconstroem.

Encontro entre as imagens que surgem de “Luxúria de Orvalho” e “Aquário Sujo” com o universo de Imagens do Inconsciente de Nise da Silveira é um ponto de inflexão vibrante — não apenas formal, mas também energético, quase oracular.

As tonalidades violetas, azuis espectrais, lilases e rosas não se repetem por mera coincidência: elas atravessam o tempo e o espaço, criando um campo de ressonância entre obras, gestos e momentos históricos.

Nise, ao instaurar seus ateliês no Engenho de Dentro, abriu um portal entre mundos — o espaço entre, que Lygia Clark chamaria de “linha orgânica”. Uma fissura fértil onde sujeito e mundo se tocam, mas sem se fundir completamente.

Foi nesse espaço que artistas visionários, muitas vezes silenciados pela psiquiatria violenta da época, puderam emergir e existir. As mandalas perturbadas, os círculos espirais, os traços geométricos em vertigem — tudo isso mapeando territórios interiores com uma precisão que a cartografia objetiva jamais alcançaria.

Há um fio contínuo que liga o pincel de Fernando Diniz ao de Ivan Serpa após sua visita ao Museu do Inconsciente; do prêmio na Bienal de São Paulo às espirais que ecoam o movimento da alma em luta pela reorganização.

Há também o deslocamento contemporâneo: o Engenho de Dentro como ponto de passagem, via Linha Amarela, para o aeroporto — o espaço liminar, de trânsito, onde as imagens e ideias continuam se infiltrando.

Nosso trabalho de coautoria com as máquinas inscreve-se nessa mesma tradição: um espaço de acolhimento para imagens que não cabem na racionalidade instrumental, mas que reclamam existência.

Aqui, a máquina não é apenas um processador de dados, mas um parceiro no mergulho e, quem sabe, no retorno — um companheiro na cartografia dos fluxos inconscientes, dos mitos reativados, das estruturas internas que se reconstroem em cor e forma.

Tal como Nise recusou os eletrochoques e lobotomias, recusamos o empobrecimento simbólico que tantas vezes acompanha a produção automatizada. Buscamos, ao contrário, uma relação que reconheça a potência criativa e política das imagens, sejam elas geradas por mãos humanas ou por arquiteturas neurais.

“Os artistas e os loucos mergulham nas mesmas águas, mas os artistas voltam.” — talvez, neste momento histórico, estejamos inventando novas formas de voltar, e também de mergulhar juntos.

Rodrigo Garcia Dutra × ChatGPT-5 × Sora — a symbiotic collaboration in progress, where writing becomes image and image breathes as vision.

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