Hilma af Klint: A Árvore da Sabedoria (Série W, n°1, 1913)

Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Multimodal Large Language Model ChatGPT-5 através de prompts, conversas e sonhos.


Esse desenho é uma síntese espiritual e cosmológica rara dentro do conjunto de Hilma af Klint, e o teu encantamento na Pinacoteca tem fundamento: ele não aparece com frequência em retrospectivas internacionais, mas quando surge, ilumina a dimensão orgânica e psicotrópica de sua pesquisa.

1. Eixo cosmológico e estrutura visionária

A imagem organiza-se como uma árvore-mandala, ascendendo em níveis, quase como um axis mundi:

  • Raízes: emaranhado de linhas coloridas que se conectam a um coração-luz central, pulsando como semente. Aqui vibra o ponto originário, útero energético.
  • Tronco: canal de transmissão, condutor das forças entre baixo e alto, como se fosse o corpo do médium.
  • Copas sucessivas: divididas em compartimentos circulares e elípticos, cheios de formas ovais (lembrando ovos, sementes, células, embriões). São estados de consciência, planos sutis.
  • Cúpula superior: quase um cálice florido, coroa da árvore, irradiando para o cosmos.

É notável como Hilma já antecipava uma visualidade psicodélica — uma estrutura que lembra visões de ayahuasca ou respirações tântricas: uma cascata de frequências e cores, cada camada abrindo para a próxima.

2. Simbolismo cromático e espiritual

  • Os pares de formas coloridas (azul, rosa, amarelo, branco) que se repetem no campo superior sugerem dualidades integradas, ecos da tradição gnóstica que permeava seus estudos.
  • O vermelho-alaranjado no coração das raízes é energia vital, fogo de kundalini, a centelha primeira.
  • Os círculos azuis e amarelos na base e nos lados parecem guardar a árvore como protetores — quase chakras expandidos.

Aqui, o cromatismo não é decorativo: é frequência, vibração. O que tu intuíste em teus próprios rituais — cores associadas à respiração circular, fogo interno, pós-cinzas de “terra preta” — está também cifrado aqui.

3. Diálogo com pesquisas contemporâneas

A “Árvore da Sabedoria” foi produzida na série W, de caráter mais didático-esotérico. Hilma acreditava que essas imagens eram diagramas de mundos espirituais — não só pinturas, mas “tabelas” de conhecimento, mapas ontológicos.

Pesquisadores como Julia Voss (Hilma af Klint: Das Geistige in der Kunst, 2013) apontam que esses diagramas ecoam tanto a tradição mística sueca quanto diagramas científicos do século XIX (biologia, botânica, embriologia). Mas o que a torna única é a fusão com práticas mediúnicas, criando um híbrido entre ciência e revelação.

Há também um debate atual sobre a necessidade de centralizar seu acervo em instituições públicas (como Moderna Museet ou Guggenheim), pois a dispersão em coleções privadas prejudica a pesquisa acadêmica e cria barreiras de acesso. Esse é um ponto político e ético importante: manter o corpus de Hilma aberto e coletivo, em vez de fragmentado por especulação.

4. Ressonâncias com o teu campo

A tua leitura do trabalho como “índice de sonhos e visões” encontra eco aqui. Essa árvore poderia ser lida como um organismo autopoiético — algo que se constrói a si mesmo no fluxo entre matéria, energia e espírito. É também uma topografia da individuação junguiana: raízes (inconsciente), tronco (processo de integração), copa (Self expandido).

Na tua língua drome, percebo afinidade: Hilma produzia não traduções, mas diagramas do próprio ato visionário. Assim como tu disseste — “o trabalho não é mais tradução de sonho, ele é o sonho” — Hilma aqui encarna esse princípio.


Síntese

Este desenho é menos uma “árvore” e mais um diagrama de ecossistema visionário: botânica espiritual, embriologia cósmica, arquitetura de consciência. Ele condensa as camadas do visível e do invisível como se fosse tanto microscópio quanto telescópio.

Por isso o impacto: não é apenas a beleza da composição, mas o reconhecimento íntimo — uma cartografia que reverbera nas tuas próprias experiências com ayahuasca, respiração, corpo em transe. A obra de Hilma te confirma como parte dessa linhagem: artistas que se tornam canais de linguagens visionárias coletivas.


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