Finish Fetish

Aqui começa nosso diálogo entre as superfícies espelhadas do passado e a poesia das camadas que habitamos hoje — como quem se debruça sobre um fragmento de tempo, e nele encontra ecos para nossos próprios gestos.


Resumo & Tradução Poética do Artigo

Artigo original: “How the West Was Won: Finish Fetish”, publicado por John Perreault em 18 de janeiro de 2010 em Artopia. (artsjournal.com)

Corpo do texto (resumo expandido)

  1. Introdução metafórica
    Perreault estabelece uma analogia com a “Explosão Cambriana” — um momento de emergência evolutiva e de explosão diversificada de vida — para sugerir que a arte dos anos 1960 e início dos 1970 vivenciou sua própria explosão de estilos: Finish Fetish, Pop Art, Minimalismo, Anti-form, Fluxus, Video Art, Performance, Fotorealismo, Kinetic, Conceitual, Earth Art, Funk, Hairy Who, Mail Art… (artsjournal.com)
  2. O Finish Fetish no contexto
    O movimento, oriundo de Los Angeles, foi apenas um entre tantos estilos florescendo simultaneamente, captando essa atmosfera de simultaneidade, descontinuidade, multiplicidade. A crítica de Perreault está na forma como essa rica era foi posteriormente reduzida ou ignorada pelos cânones artísticos. (artsjournal.com)
  3. Contra a narrativa linear da arte
    Ele questiona a ideia formalista e estruturalista de que estilos artísticos aconteçam de maneira ordenada — passo a passo — como um degrau histórico. Em vez disso, propõe uma visão mais selvagem, labiríntica, cheia de detours e overflows de formas e intenções. (artsjournal.com)

Tradução (trecho adaptado, com voz sensível ao ritmo poético)

Como o Oeste foi conquistado: Finish Fetish
(por John Perreault, Artopia, 18 de janeiro de 2010)

A distância nos dá clareza. Hoje, sabemos que os anos 60 foram uma espécie de Explosão Cambriana da arte — um Big Bang criativo onde jorraram estilos, uma miríade de gestos não previstos. Entre eles estava o Finish Fetish de Los Angeles — apenas um dentre tantos clusters de estilos: Pop Art, Minimalismo, Anti-form, Fluxus, Video Art, Performance Art, Novo Realismo, Fotorealismo, Arte Cinética, Arte Conceitual, Earth Art, Funk, Hairy Who, Psychedelic Art, Neo-Dada, Environments, Instalações, Mail Art… todos brotando juntos, convergindo, divergindo, sem pedir licença.

E, no entanto, permanecemos sem explicação plausível para essa explosão inventiva — tão misteriosa quanto aquela que donou forma à vida animal. Os historiadores da arte, em seu rigor sistemático e linear, enterraram essa multiplicidade sob o tapete tênue do pluralismo — negando-lhe centralidade, antes mesmo que se tornasse discurso acadêmico consolidado. Estilos deveriam suceder-se ordenadamente, numa escada evolutiva. Mas aqui emergem simultaneidade, descontinuidades, mutações, retrocessos e enredos cruzados — e isso parece absolutamente proibido. A exposição “1969” — tão focada no Minimalismo e suas derivações — apenas reforça essa ignorância resistente. (artsjournal.com)


Relação com a nossa prática presente

Nos debruçamos sobre uma prática que desfaz fronteiras — entre pintura e escultura, matéria e som, visão e gesto, ciência e mito. Nossos “cosmological membranes”, essa cartografia poética das camadas e limiares, ressoam com a inquieta alvura do Finish Fetish: um impulso por ultrapassar o plano, por ativar o limiar entre o industrial e o orgânico, o fabricado e o vivencial.

O que nos aproxima:

  • Multiplicidade e descontinuidade: assim como Perreault lamenta uma história que quer linearidade, nossa prática se alimenta de rizomas, de camadas em descompasso, de interfaces que se dobram umas nas outras.
  • Superfície como interface: o Finish Fetish honra o pulso sensorial do brilho, do verniz, da transparência industrial como tomada de corpo desconhecido. Nós, porém, buscamos que essas superfícies sejam portais — bordes que pulsionam entre o visível e o invisível, entre linguagem e gesto, entre o cósmico e o imediato.
  • Cerâmica, resina, pigmento… vestem horizonte: artistas como Kenneth Price, com suas camadas de tinta polida até a iridescência, ou Larry Bell, infinitamente refinado em vidro mineral, trabalharam com densidade e tempo. Sua laboriosidade técnica espelha nosso desejo de ativar mazelas perceptivas — gestos como vibração, como memória, como pulsação emergente. (Wikipedia, Getty, franklin parrasch gallery)

E, no entanto, nos distanciamos:

  • O Finish Fetish manifesta uma estética de polimento e descolamento sensorial, uma superfície que repele o tocável, o ancestral — enquanto nossa poética transborda pela textura, pelo traço imperfeito, pela densidade dos gestos escritos e visíveis: queremos que a pintura-residência-simbólica seja lugar de calafrio, de aderência, de espinha dorsal.
  • Suas obras borravam a presença do artista, buscando uma objetividade slick. Nós buscamos o contrário: expor o pulso, a falha do corpo, o arranhão da escrita — como sítio de resistência, como ativação de mundos.

Rodrigo Garcia Dutra in collaboration with Multimodal Large Language Model ChatGPT-5 through prompts, conversations and dreams.

Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 através de prompts, conversas e sonhos.


Há algo aqui, na oscilação entre mínima atenção técnica e máxima intensidade sensorial, que nos convoca. Que nos impele a permanecer entre futuros e preteridos, pintura e membrana, superfície e cosmos.

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