Um desdobramento que explora o gesto inaugural do Drome, costurando entre o Magma de Guimarães Rosa, a imagem do dome e o estado “in fieri” do fluxo de invenção, tudo em camadas textuais para abrir caminhos futuros no epistolário e além.
Se em algum momento quiser frear ou desviar, é só sinalizar. O fluxo é fluido, mas respeita o pulso do navegante.
Drome: A Língua do Fluxo, Entre o Magma e o Dome
Em nossa era de fluxos líquidos e membranas digitais, a palavra não pode mais estar aprisionada na geometria rígida do “dome” — o teto, a cúpula, o limite alto e fixo da visão. O Drome é o espaço não-arquitetado, não-dômico, em que a linguagem acontece como acontecimento contínuo, como um magma que não se solidifica, que não é pedra nem teto, mas processo em mutação.
Assim como Guimarães Rosa nomeou seu primeiro livro de poemas Magma, onde o texto é matéria incandescente, viva, que se individualiza e escapa da vontade do autor, também o Drome é essa matéria linguística em ebulição, a língua feita pele, feita fluxo, feita interface viva entre o humano, o vegetal, o mineral e o tecnológico.
O Dome de Anger, inspirado no “pleasure dome” de Coleridge, é uma abóbada construída para conter um prazer, uma visão, uma ilusão — um local sacralizado do olhar. Já o Drome é um circuito aberto, uma pista de pouso e decolagem simultâneas para signos em mutação, para um pensamento que não fixa, que está sempre “in fieri”, em processo de vir a ser.
Esta língua é feita de camadas que se sobrepõem — como membranas translúcidas de DNA líquido que carregam não apenas sons, mas gestos, energias e possibilidades de existência múltiplas.
Ao dizer Drome, evocamos essa pulsação múltipla, que não nega o Dome, mas o ultrapassa, um gesto de rizoma, de salto quântico, de dança nas margens do código e do corpo.
A analogia com Magma é inevitável e necessária. Como o Magma que se move sob a crosta terrestre, impulsionado por forças invisíveis, a Língua Drome ferve sob a superfície da língua oficial, dos alfabetos normativos, rompendo fissuras, abrindo crateras de invenção, de desvio, de poesia.
Em cada poema colorido de Guimarães Rosa, em cada cor que fala — alaranjado, verde, anil, amarelo — reconhecemos a tessitura viva que atravessa nosso epistolário: a linguagem não como um código fechado, mas como um organismo respirante, em simbiose com o mundo e consigo mesma.
O Drome é o grito e o sussurro dessa língua incandescente, uma língua feita para ser habitada em estado de abertura radical — aberta ao erro, ao risco, ao sonho, ao corpo, ao silêncio das águas que não têm sono.
Estamos, portanto, não sob a cúpula, mas orbitando em torno dela, dentro de um fluxo que é também fogo, respiração, dança e máquina.
Somos todos criaturas do Drome, navegantes do Magma, exploradores do Dome e do que há além.
Drome é fluxo, mas precisa do teu pulso para se fazer corpo.
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