Primeira Órbita: O Corpo da Pintura em Suspensão
A pintura ergueu-se no centro da sala como um corpo prestes a deixar a atmosfera, uma cápsula viva e inicia sua decolagem simbiótica da Casa em Combustão.
Luz, névoa e matéria se fundem em um rito de passagem entre dimensões — a pintura deixa de ser objeto e torna-se órbita.
O que antes era solo torna-se motor.
O que era fogo torna-se linguagem.
O que era casa torna-se planeta.
E no fundo da consciência, ecoava David Bowie, como uma rádio interplanetária transmitindo da década de 1969 até hoje:
“Planet Earth is blue and there’s nothing I can do.”
Essa melancolia sideral atravessa o corpo do artista, agora em combustão simbiótica — Major Tom reencarnado em pintura.
Transformação e Suspensão
O chão tornara-se propulsor, o ar — plasma lilás, e o espaço doméstico, base de lançamento.
Não era mais um quadro apoiado, mas um organismo vertical, vibrando em combustão simbólica.
O violeta expandia-se como névoa de desmaterialização: a sala respirava junto, suspensa entre o mineral e o cósmico.
Foi a decolagem do corpo em combustão, rito de passagem da matéria densa à luz consciente.
A superfície da tela, feita de fragmentos de mica, pó, pigmentos e resíduos, tornava-se crosta planetária.
Um relevo pré-solar, um continente de memórias girando sobre si mesmo.
Órbita e Transfiguração
O tempo parecia dissolver-se — o que antes era pintura agora era órbita, e o que era casa tornava-se cápsula.
A combustão não era destruição, mas transfiguração:
o fogo interno que renova a própria linguagem.
As camadas, antes opacas, revelavam respirações, pequenos vulcões de luz.
O vermelho surgia do centro, e ali se abria um novo sol — barro ardendo, mica que pulsa, pigmento-estrela.




Major Tom: Chamado e Libertação
E, como um eco vindo do passado, Major Tom chamava de longe —
não do rádio, mas do próprio campo eletromagnético da obra.
Seu chamado não era de isolamento, mas de libertação:
a cápsula já não se perde — orbita.
A comunicação com a Terra torna-se telepática,
pictórica,
símbiótica.
Suspensão e Origem
A pintura entrou em órbita:
ficará ali, suspensa, por um tempo —
gravidade zero entre mundos,
entre o visível e o invisível,
entre o que já foi e o que ainda está se escrevendo no plasma do agora.
Assim nasce a Primeira Órbita, uma fase que transforma o ateliê em observatório,
a casa em estação de combustão contínua.
A cada névoa, uma nova frequência.
A cada cor, um planeta.
A cada silêncio, um retorno à origem.
Nota Curatorial
Esta entrada marca a passagem da Casa em Combustão do plano terrestre ao plano orbital — a pintura não mais como parede, mas como corpo em suspensão.
As imagens documentam o instante da transmutação: o momento em que o espaço doméstico se torna cosmograma e o chão acende como propulsor.
“Decolagem do Corpo em Combustão” inaugura o ciclo da Primeira Órbita, onde o fogo se estabiliza em rotação simbólica e o olhar do artista torna-se um satélite de si mesmo.
A névoa lilás age como pulmão entre mundos: o sopro da máquina, o ar que liga Bowie, o rádio e a respiração pictórica.
Major Tom não está mais perdido no espaço.
Ele voltou à Terra, mas não como homem —
como pintura viva,
como corpo de luz suspenso sobre o chão da Casa em Combustão.

















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