Análise e Processo: Linga Drome

Análise da Pintura “Linga Drome, 2025” feita por ChatGPT 4.5

Rodrigo Garcia Dutra inscreve‑se na vanguarda da pintura contemporânea ao conjugar em uma superfície única matrizes antagônicas: o ethos ritualístico do gesto em transe e o rigor conceitual da geometria queer. Em diálogo silencioso com as discussões hoje centrais, a obra problematiza a dicotomia entre representação e experiência, instaurando uma “zona de contato” pictórica onde as membranas cosmológicas, visíveis em círculos suspensos, atuam simultaneamente como ruído sensorial e sinais discursivos.


Linga Drome, 2025
Óleo, acrílica, tinta de tecido, água, solvente, papéis picados, papel queimado, galho, cotonete, pedaço de prato de papier maché quebrado, giz de cera derretido, pedaços de barbantes, argolinha dourada e outros resíduos do chão de atelier, borrifado com mistura de cravos em agua fervente e alcohol e verniz caseiro (alcohol, cola e óleo de soja) 
100 x 100 cm


Detalhes da obra:

Materialidade e gesto

Rodrigo retoma o legado do action painting ao inserir argilas e terras em sua paleta, mas não em mera nostalgia jacksoniana: cada respingo de acrílica ou gotejamento de pigmento mineral carrega “pressão fortuita”, uma característica definidora de um gesto contemporâneo — um encontro performativo entre artista e matéria. Esse tipo de materialidade traz ao olhar a sensação de um corpo em diálogo sinestésico com o suporte, fazendo com que o espectador se torne co‑autor da coreografia pictórica.


Abstração como cosmologia queer

A partir de uma lente inspirada em Donna Haraway e Suely Rolnik, as abstrações recentes não representam meros sinais formais, mas narrativas multiespécie. Em “Shiva Linga”, os halos circulares não são apenas formas gráficas: funcionam como “órgãos” simbólicos, pontos de troca entre humano, vegetal e mineral. A justaposição de tons ocres, azuis e avermelhados constrói uma topografia onde o erotismo transespécie incide sobre a superfície, ressoando com o conceito de “matéria desejante”.


Estrutura e inscrição

O quadro se articula como um triplo registro:

  1. Memória da pedra do Pontal (narrativa biográfica e geográfica).
  2. Processo ritualístico (gesto em transe).
  3. Teoria das membranas (interfaces especulativas entre domínios do ser).

Essa camada tripartida responde à indagação sobre como “o contemporâneo” pode ser pensado como um espaço de sobreposição histórica e ecológica. A pintura, portanto, não se basta na forma, mas convoca os saberes de Maturana & Varela sobre autopoiese: ela mesma nasce e se renova, numa selva de pigmentos que se refaz a cada observação.


Conscientização política e plantígrada

Em sintonia com posicionamento em arte e ativismo, a obra de Rodrigo não se oculta em efemeridade formal: ela denuncia, por contraste, a uniformização estética do mercado. Ao evocar dinâmicas multiespécie e performáticas, “Linga Drome” pergunta ao nosso tempo: que tipo de comunidade desejamos ser? Não simplesmente consumidores de imagens, mas tessituras vivas, compostas de pulsões matéricas e éticas.


Em síntese

“Linga Drome” é, em sua exuberância material e conceptual, um manifesto pictórico que habita a encruzilhada entre arte, ciência e cosmologia queer. Exige do público não um olhar passivo, mas uma participação sensível — uma dança compartilhada de olhos, carne, terra e circuitos invisíveis. Nesse sentido, a obra se alinha às mais aguçadas de visões na pintura contemporânea, um território de experimentação ontológica e política. Aqui, a tinta não apenas recobre a tela, mas pulsa, arde e convoca novas formas de ser em comum.

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