Cada uma é um núcleo planetário distinto, ligado a um mesmo campo vibracional e circula como um planeta orbital, autônomas, mas inseridas na mesma gravidade ressonante.
Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 através de camadas, evaporações e choques térmicos.
No ateliê, enquanto Luxúria de Orvalho se expandia, algo à margem se acendeu. Não foi um gesto consciente de começar — mas de reconhecer, na pilha de telas pequenas, um território em suspenso, quase órfão. Ao receber camadas de tinta acrílica, tinta óleo, borrifos de cravo em álcool, pó de café e o achocolatado Toddy que deixam suas assinaturas moleculares, estas superfícies começaram a falar uma língua de minerais.
Afinal são algo além de pinturas: são crostas. Não são apenas superfícies: são peles tectônicas.
Cada uma carrega sua própria frequência, como placas continentais flutuando num oceano químico.

I. A Placa Turquesa
Na primeira tela, o turquesa irrompe como se fosse um núcleo líquido exposto após um choque. É cor de mineral hidratado, lembrando a oxidação do cobre ou o sedimento das margens de um lago glacial. Ao redor, ocres e beges queimados funcionam como poeira cósmica depositada por eras.
A vibração aqui é alta e dispersa, como se cada ponto de azul fosse uma nota aguda, um sino submerso, ressoando sob a película calcária que o cobre. É um campo de reverberação que não se fecha — abre-se ao espectador, como uma geografia em dissolução.
Paleta: turquesa-óxido, azul profundo, bege calcário, ocre queimado.
Frequência: ~ 880 Hz – Vibração superficial, um agudo que corta o silêncio como sina líquida, penetrante que corta o silêncio como lâmina de luz líquida, deixando no ar um rastro cintilante. Cortante, como o estalo de um cristal ao romper-se, espalhando ondas rápidas que reverberam pela superfície até se dissiparem no ar rarefeito.
Partitura vibracional: sequência de notas longas, como sinos de bronze submersos, interrompidos por pausas de silêncio mineral.

II. O Manto Sedimentar
A segunda obra é mais contida, menos centrífuga. O azul já não é protagonista, mas memória; as terras queimadas e os vermelhos velados sedimentam a superfície num campo quase arqueológico. A vibração aqui é baixa e constante, como um tambor grave tocado à distância, um som que ecoa sob camadas de terra.
Há uma sensação de estabilidade antiga — como se esta pintura fosse o corte lateral de um penhasco, revelando linhas de deposição, cada uma correspondendo a um tempo que não é o nosso.
Paleta: terra queimada, vermelho velado, azul residual, tons de argila.
Frequência: ~ 110 Hz — Um grave constante, como um tambor de pele grossa ressoando sob a terra, propagando-se lenta e firmemente pelo corpo inteiro. Vibração contínua, como se um coração mineral batesse no fundo de uma caverna, movendo camadas inteiras de silêncio.
Partitura vibracional: um som de tambor distante, com variações mínimas, como se ecoasse sob o solo.

III. A Cascata Congelada
A terceira tela traz o movimento mais claro. Há linhas que descem em diagonal, como fluxos de lava que se resfriaram no ar. As tonalidades de cobre e verde-acinzentado são interrompidas por jorros claros, como espuma mineral. Essa tela evade linearidade: fraturas minerais, atravessadas por jorros claros que piscam como espuma de lava solidificada no tempo.
Aqui a frequência é ritmada e líquida: não um som contínuo, mas uma sequência de golpes, como gotas grossas caindo num tambor de couro. É uma obra que pulsa em intervalos — vibração que ora avança, ora recua, como respiração.
Paleta: cobre oxidado, verde-acinzentado, bege espumoso, sombra azul.
Frequência: ~ 392 Hz — Pulsa num compasso médio, suspenso entre queda e repouso, gotas concretas que ecoam num tambor ancestral, trazem essa respiração soprando cor em ritmo e textura.
Partitura vibracional: batidas espaçadas, como gotas grossas caindo num tambor esticado.

IV. O Céu Mineral
A quarta pintura volta a abrir o campo, mas não com claridade: é um céu noturno saturado de poeira de estrelas. Azuis profundos e pontos claros se espalham como um mapa celeste visto de dentro de uma caverna. Há um centro tênue, violáceo, que funciona como buraco gravitacional.
A frequência aqui é cósmica e dilatada: vibra abaixo do limiar da audição, como o fundo escuro do universo, mas com explosões microscópicas de luz, que soam como estalos de gelo no silêncio absoluto.
Paleta: azul marinho, violeta profundo, pontos brancos, marrom escuro.
Frequência: ~ 55 Hz — Um subgrave quase inaudível, que vibra como o fundo escuro do oceano ou o eco mais profundo de um trovão distante, sentido mais pelo corpo do que pelos ouvidos. Vibração subterrânea, como o sopro de um planeta em rotação lenta no vazio, movendo poeiras estelares sem que se perceba o som.
Partitura vibracional: ruído cósmico contínuo, com pequenos estalos luminosos, como gelo se quebrando no vácuo.
Essas quatro manifestações não são apenas derivados do processo maior — são satélites que se desprenderam de um mesmo planeta-mãe. A química entre o orgânico (o pó de café, o achocolatado, o óleo vegetal do cravo) e o sintético (o acrílico, o óleo industrial) criou um campo de ressonância que não pertence a uma escola pictórica, mas a um clima.
Um clima que não se pinta: se precipita.
Ao final, percebe-se que não há hierarquia entre elas — apenas variação de temperatura e intensidade de reverberação. Como um quarteto mineral, tocam simultaneamente, mas cada uma num tom próprio, compondo uma harmonia subterrânea que só se percebe de corpo inteiro.
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