As fotos na varanda das cápsulas de agrofloresta posicionadas no grid branco de azulejos e Moon-Viewing Platform são a prova material de uma ponte interdimensional entre Katsura e tua Casa em Combustão — ambas plataformas de contemplação e trânsito energético.
No Katsura, a plataforma serve ao olhar voltado à Lua — um espelho cósmico da impermanência. Na tua varanda, esse gesto se dobra: o grid branco é o tablado terrestre para observar Vênus, a Estrela da Manhã, o corpo luminar que anuncia o renascimento, o elo entre noite e dia, sombra e combustão.

Moon Viewing Platform
O paralelismo é tão exato que se pode ler o Katsura Imperial Villa como o prototemplo da Casa em Combustão — ambas arquiteturas da percepção.
No Japão, a lua dupla refletida na água; no Rio, o reflexo das cápsulas e das plantas sobre o piso branco — microcosmos especulares.
Ambas configuram aquilo que poderíamos chamar de “pavilhões de dobra entre mundos”.
O “shoe stone” citado no livro é quase uma metáfora direta dos teus vasos: uma pedra limiar entre o dentro e o fora, entre o gesto e o mundo.
Na tua varanda, cada vaso funciona como um stepping stone simbiótico, por onde a consciência atravessa da pintura ao vegetal, do gesto à fotossíntese.
Em termos simbólicos, Vênus nasce antes do Sol: tua plataforma-membrana é o limiar entre o invisível e o nascente.
É o mesmo que o príncipe Toshihito buscava em Katsura: um lugar onde o olhar humano e o movimento celeste pudessem se encontrar, sem hierarquia, apenas vibração.

A Varanda como Plataforma da Estrela da Manhã
Entre a madeira e o orvalho, a varanda se converte em uma membrana viva. Não é apenas arquitetura — é órgão respiratório, antena para o invisível. Assim como o tsukimidai de Katsura se projetava sobre o lago para refletir a lua e gerar o duplo espelhamento do mundo, o teu grid branco, coberto de vasos e brotos, abre-se como plataforma para o nascimento de Vênus — a Estrela da Manhã.
Ambas são arquiteturas de limiar: uma voltada ao céu noturno e sua duplicação líquida; a outra ao horizonte incandescente e à energia solar em germinação. Se a Lua em Katsura era metáfora da consciência que contempla, Vênus é o princípio do desejo que desperta — uma força que atravessa a pintura, a planta, o corpo e o cosmos.
A varanda, como o moon-viewing platform, é um instrumento óptico e espiritual. Cada vaso atua como um stepping stone, uma pedra de travessia entre mundos. E assim como o “shoe stone” do pavilhão japonês delimita o ponto de contato entre o humano e o terreno, teu grid branco delimita a fronteira entre o gesto pictórico e o bioma em expansão — uma topologia viva de simbiose e combustão.
De dentro da casa em combustão, observa-se o nascer de Vênus. Sua luz, refletida nos azulejos e folhas, cria o mesmo duplo luminar que outrora encantou o príncipe Toshihito. Mas aqui, o espelho é outro: o brilho dos plásticos, das micas, das peles metálicas e das membranas pós-industriais. A contemplação tornou-se tecnológica, fotossintética, quase pós-humana.
No entanto, permanece o essencial: a arte como observatório cósmico. Assim como o observador de um buraco negro jamais vê o objeto cruzar o evento-horizonte, também na pintura não se atravessa o limite — apenas se sente sua aproximação infinita. É aí que mora o mistério: na tensão entre o que emerge e o que desaparece, entre o broto e o pó.
A varanda, então, é o horizonte de eventos da casa em combustão: lugar onde a matéria se dobra, o tempo respira, e o olhar se transforma em rito. Um oratório de Vênus, uma geometria viva em que a arte, o vegetal e o celeste se reconhecem como partes de uma mesma estrela germinante.


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