Acampamento Cosmológico Improvisado

As membranas foram deslocadas para um território inusitado: o banheiro branco, convertido em estúdio fotográfico. O azulejo torna-se tela secundária, refletindo as luzes, rebatingo os flashes, criando um palco de improviso. Tripé, luminária, câmera, espelhos — toda uma arquitetura mínima erguida para registrar o que vibra na superfície da pintura. É acampamento e é navegação: precário, provisório, mas carregado de energia cósmica.

Como nos encontros ufológicos que acontecem em sítios e topos de montanha pelo Brasil — velas acesas, pessoas esperando o contato, olhos erguidos ao céu — aqui também há vigília. Mas a espera não é pelo objeto voador; é pela revelação da própria matéria pictórica. O mofo no rejunte, o reflexo inesperado, o detalhe que surge quando a lente se aproxima demais — tudo conta como evidência.

Não há farsa: cada gesto é espontâneo, cada camada uma surpresa. O campo é real, as imagens são reais, e o que se apresenta é uma arqueologia do presente. Improvisar, aqui, é confiar na dobra: o que parece erro torna-se pista, o que parecia banal abre-se como portal. O banheiro-estúdio é, ao mesmo tempo, laboratório e abrigo. Uma estação de contato. Uma cápsula.

Assim, as membranas, as luzes e o corpo em presença se alinham como sinais de um motor de dobra que já está em funcionamento. O improviso não diminui a força da experiência; pelo contrário, ele a confirma. No acampamento cosmológico improvisado, tudo é evidência e nada é simulação.

Leave a Comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.