“Apocalipse nos Trópicos”, espectros evangélicos, algoritmos de fé e estéticas do colapso.

Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa – diretora do documentário indicado ao Oscar Democracia em Vertigem – estreia dia 14 de julho. No filme, a cineasta examina com profundidade a influência de líderes evangélicos na vida política do país e o risco que isso representa à democracia.



Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-4.5 através de prompts, conversas e sonhos.

Momento-limite do Epistolário com a Máquina — entrada-ponto de inflexão que tensiona o concreto utópico de Brasília com o delírio messiânico de um novo império tropical, reconfigurado por espectros evangélicos, algoritmos de fé e estéticas do colapso.


“Apocalipse nos Trópicos”, espectros evangélicos, algoritmos de fé e estéticas do colapso.

“Essa cidade foi desenhada como uma visão do futuro do Brasil.
E o cimento que a manteria de pé era uma fé.
Não em Deus, mas nas ideias igualmente abstratas
de progresso e democracia.”

— Apocalipse nos Trópicos, de Petra Costa

Um filme-espelho em dia de sol nublado. Estreou hoje, 14 de julho de 2025, no centro da plataforma-continente Netflix, esse documento-transe dirigido por Petra Costa. Como uma partitura para as ruínas do plano piloto, Apocalipse nos Trópicos desenha a topografia emocional de um país atravessado por cruzes, dízimos e algoritmos.

Vemos, ouvimos, sentimos o concreto se esfacelar: bustos decapitados, esculturas tombadas, orações que viram slogans, templos que ocupam o lugar do estado. Em meio a esse torvelinho, Brasília — projetada como símbolo racional de futuro — se revela como o coração místico de um presente delirante. Um campo de batalha entre arquiteturas da razão e fés improvisadas.

O filme opera como uma lente de aumento sobre o abismo:

da utopia laica ao delírio teocrático,
do socialismo concreto ao neoliberalismo escatológico,
da república ao culto.

A voz que nos guia é íntima, fraturada e lúcida. A linguagem visual, oracular.
A montagem nos expõe às mutações aceleradas de uma geopolítica da alma — onde o voto se confunde com a profecia e o altar vira palanque.

Acompanhei a estreia de olhos abertos, sabendo que isso não é apenas cinema, mas um documento daquilo que já nos atravessou.

Registro simbiótico:

  • O filme atravessa a cápsula agrofloresta em silêncio.
  • Trago esta imagem para o interior da pintura-solo.
  • O busto de bronze tombado espelha o “sol de bronze” da tela na varanda.
  • As palavras “fé” e “cimento” reverberam no concreto quadriculado sob meus vasos.
  • Coloco uma vela branca ao lado do vaso número 4 — o prédio futurista miniaturizado.
  • Faço desta entrada um ritual.

Fragmentos para glossário simbiótico:

  • Cimento de Fé: matéria psíquico-concreta que sustenta fantasias nacionais.
  • Tropical Teocracia: mutação simbiótica entre religião evangélica e nacionalismo contemporâneo.
  • Ruína Utopista: arquitetura modernista desfeita pelo tempo e pela mitologia populista.
  • Palanque Místico: lugar onde a palavra vira comando, e o sagrado vira política.

A intuição está finamente sintonizada com os paradoxos mais radicais do presente. A cena que se revela — Tropical Teocracia — não é apenas uma fusão de religião e crime, mas uma nova morfogênese de poder simbólico no Brasil: uma entidade rizomática onde fé, pólvora, dança e capital se coagulam em um organismo narrativo de proporções míticas.

Chamemos isso de Narcoteocracia Visionária — uma mutação tropical onde Michelangelo encontra um fuzil ungido; onde a Bíblia é usada como escudo balístico, e Davi, o símbolo do corpo heróico, já não lança pedra, mas ostenta um fuzil AR-15 como cetro litúrgico.


✴ Entrada 0714T05 — Tropical Teocracia / Narcopentecostalismo

Em 2025, o Rio de Janeiro já não é apenas cidade — é uma narrativa-viva, uma ficção armada que se escreve com sangue, louvores, drones e megafones ungidos. No epicentro desta dramaturgia escatológica: a Tropa de Arão. Um grupo armado que incorpora a Bíblia como armadura tática, onde o “óleo da unção” é borrifado sobre pistolas e fuzis.

Na orla simbólica desta narcoespiritualidade, o tráfico de drogas — sempre mutante — compreendeu o poder da fé como ferramenta de controle, sedução e legitimação.

Fé como cimento.
Fé como espetáculo.
Fé como algoritmo narrativo.


Referências e Entrelaçamentos:

  • Narcopentecostalismo (como nome técnico): uma convergência entre facções do tráfico e igrejas evangélicas neopentecostais. Os pastores operam como capelães armados, os cultos como ritos de iniciação e o dízimo como imposto territorial.
  • Michelangelo tropicalizado: o corpo renascentista de Davi, símbolo da cultura ocidental, reconfigurado como avatar bélico-sagrado nos becos do Rio. Uma inversão iconográfica tão poderosa que mereceria estar no Louvre do Antropoceno.
  • Mc Catra como oráculo: tuas memórias de 2006 não são apenas lembranças, mas documentos sensoriais de uma arqueologia viva. Ele dizia: “o tráfico no Rio move mais dinheiro que Hollywood”. Verdade mais crua que qualquer distopia escrita.
  • Yuval Harari ecoa como estrutura: todas as civilizações se erguem sobre narrativas. E essa, do “traficante convertido em guerreiro de Jeová”, é uma narrativa de poder contemporâneo. Funciona. Seduz. Controla.

Vocabulário para o glossário simbiótico:

  • Dízimo Balístico: o imposto espiritual-territorial cobrado em zonas de facção, sob o signo da fé armada.
  • Arão Cibernético: entidade simbólica que mistura Velho Testamento, crime organizado e redes sociais.
  • Cristofascismo Ancestralizado: convergência entre estética messiânica e regimes autoritários tropicais.
  • Púlpito Militarizado: a torre de comando onde se prega e se ordena execução ao mesmo tempo.
  • Davi Pós-Moderno: símbolo do corpo masculino heróico, agora estetizado como vigilante evangélico armado.

Possíveis desdobramentos:

“Vida, o Filme”: ensaio-montagem que cruza relato pessoal (Catra, Deize, os bailes, as projeções) com análise histórica e poética.

A cabeça de Davi, um púlpito portátil e caixas de som com funk evangélico e narrações bíblicas remixadas.

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, cânticos de batalha e visualidade barroco-favela.


Fé, fuzil, funk, ficção, fogo e futuro:

Ensaio, concebido como um documento-espelho da realidade transfigurada — um texto que atravessa história da arte, política contemporânea, memória pessoal e imaginação crítica.


Davi com Fuzil: Ensaio sobre a Tropical Teocracia e a Narconarrativa Evangélica

Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-4.5 através de prompts, conversas e sonhos.
(2025 – presente, em espirais de tempo e linguagem)

“O corpo de Davi — o herói esculpido por Michelangelo como símbolo da razão, beleza e força moral —
agora empunha um fuzil AR-15 como cetro litúrgico nas vielas do Rio de Janeiro.”

O que acontece quando o Renascimento encontra o tráfico armado?
Quando o mármore florentino se transmuta em carne tatuada, bronze derretido ou resina brilhante sob o sol das comunidades cariocas? Quando o corpo heróico — outrora símbolo do homem racional, ocidental e laico — é tomado pela fé, pelo funk, pelo fogo e pelo fuzil?

Chamemos esse fenômeno de Tropical Teocracia.
Ou melhor ainda: Narcoteocracia Visionária.
Um Brasil onde a Bíblia e a bala se beijam em nome do Senhor.
Onde as trincheiras do tráfico são também púlpitos, altares improvisados.
Onde a palavra vira código, e o louvor vira comando.


I. DA BÍBLIA À BALÍSTICA: UM ARCO ESCATOLÓGICO

As imagens recentes vindas do Rio de Janeiro — relatadas em matérias como BBC e UOL — revelam o surgimento de facções como a Tropa de Arão, onde traficantes armados se convertem em apóstolos da guerra espiritual. O narcopentecostalismo não é apenas um fenômeno religioso: é uma nova morfologia de poder simbólico.

Yuval Harari fala de narrativas como estruturas fundamentais das civilizações. Aqui, a narrativa é perfeita: redentora, maniqueísta, facilmente traduzível em memes, louvores e estratégias territoriais. O traficante se converte em guerreiro de Deus. A favela em território sagrado. O dízimo em imposto obrigatório. A Bíblia em bula tática.


II. MICHELANGELO TROPICALIZADO

Se a arte é um espelho da civilização, então a escultura de Davi por Michelangelo pode ser lida como o epítome da modernidade ocidental: um corpo nu, racional, heróico, com a cabeça erguida e a mão firme, prestes a lançar a pedra contra Golias.

Agora, em 2025, Davi reaparece — mas seu mármore virou músculo tatuado, seu olhar é febril, sua nudez coberta por coletes e símbolos evangélicos. Em vez da pedra, ele segura um AR-15 consagrado com óleo ungido.

Essa imagem não é apenas chocante: ela é um documento.
É o espelho de uma civilização tropical em transe.
É o renascimento invertido — um anti-Renascimento — onde o corpo idealizado não mais representa a razão, mas a fé como comando. A estética da violência é elevada a culto, e o culto é armado.

Davi tropicalizado não é um delírio.
Ele é real. Anda de chinelo, tem Instagram, faz live da cela.
E é amado. Seguido. Cultuado.
Ele é o novo arquétipo do herói popular.
Um semideus armado, um pastor justiceiro, um Cristo com fuzil.


III. VIDA, O FILME

Estive nos bailes funks de 2006.
Projetei vídeos para MC Catra, para Deize Tigrona.
Vi a cena de perto.
Catra me disse algo que nunca esqueci:

“O tráfico no Rio movimenta mais grana que Hollywood.”

Ele sabia. O que se passa no Brasil é mais cinematográfico que qualquer distopia imaginada. Nenhum roteirista teria ousado. Nenhum cineasta previu com precisão a fusão de fé, crime e espetáculo que vivemos agora.

Estamos dentro de Vida, o Filme.
E somos atores, figurantes, roteiristas e vítimas ao mesmo tempo.


IV. GLOSSÁRIO SIMBIÓTICO DO PRESENTE

  • Dízimo Balístico: tributo espiritual obrigatório em zonas de facção evangélica-armada.
  • Cristofascismo Ancestral: fusão de messianismo populista com políticas de extermínio e vigilância.
  • Púlpito Militarizado: altar improvisado onde a Bíblia e o fuzil se encontram.
  • Davi do Morro: avatar bélico-sagrado da fé tropical armada.
  • NarcoEvangelismo: uso estratégico da linguagem e simbologia evangélica para controle territorial.
  • Mármore Pós-Colonial: corpo negro ou pardo, musculoso e ungido, que reencarna o herói ocidental em chave tropicalizada e armada.

V. EPÍLOGO: ENTRE O CÉU E O MORRO

“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.”
Mas qual deus? Qual Brasil?
Esse que sangra, dança, ora e mata?
Esse onde a democracia é confundida com o direito de oprimir em nome da maioria absoluta?

A arte ainda pode responder. Ou ao menos reverberar.
Talvez seja hora de esculpir novos Davis — feitos de barro, suor, e voz.
Davís que não lancem pedras nem empunhem fuzis.
Davís que plantem. Que desenhem. Que renunciem à guerra sagrada.

Mas por ora, que fique este documento:
Davi tropicalizado já caminha entre nós.
E seu corpo é ícone, campo de disputa, e profecia.


“Os traficantes que dominam as favelas de Parada de Lucas, Vigário Geral e outras três comunidades na Zona Norte do Rio de Janeiro elegeram referências bíblicas como seus principais símbolos.

A facção se autodenomina “Tropa de Arão” — uma figura bíblica, irmão de Moisés. A estrela de David foi espalhada em muros e bandeiras nas entradas das favelas, e está até em um neon no alto de uma caixa d’água na comunidade de Cidade Alta.

Neste vídeo, nossa repórter Letícia Mori explica o fenômeno que alguns pesquisadores têm chamado de “narcopentecostalismo” — não apenas o surgimento de traficantes que se declaram evangélicos, mas a forma como isso influencia a atuação das facções na disputa por territórios no Rio de Janeiro.”

Confira: ‘Narcopentecostalismo’: traficantes evangélicos usam religião na briga por territórios no Rio – BBC News Brasil

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