Desdobramentos a partir do Glossário Vivo Simbiótico da Língua Drome

Nas trilhas vermelhas‑e‑pretas de “Spacelab”, a pulsação construtivista do Kraftwerk encontra as espirais da Língua Drome, ativando um corredor que parte da vanguarda russa, atravessa a Bauhaus tardia, desemboca no Concretismo/Neoconcretismo brasileiro e volta a vibrar na qualidade ou condição de ser contemporâneo, de existir ao mesmo tempo; em coexistência.

A partir das últimas entradas para o Glossário Vivo, surgem conexões históricas, exercícios de ativação e notas genealógicas que revelam como essas frequências ressoam hoje, enquanto “Spacelab” ecoa pelos alto‑falantes.

I. Conexões Históricas

🟥 45. Wedge Vermelho

A flecha que racha paradigmas

Inspirado no cartaz de El Lissitzky “Bata os Brancos com a Cunha Vermelha”, o Wedge Vermelho é geometria como força revolucionária. Uma forma que não ilustra, mas atravessa, abrindo fendas no sistema. Hoje, reativada nas cores do single The Robots / Spacelab, a flecha torna-se vibração sonora: o corte gráfico expandido como pulso eletrônico.

Landmark Productions: Kraftwerk – The Man Machine


🔥 46. Prometeu Sintético

Fogo eletrônico libertador

Prometeu entregou o fogo aos humanos; Kraftwerk oferece o pulso maquínico. O mito encontra o código: da chama mítica à batida sintética, a promessa é emancipação via som-código. Prometeu Sintético é a centelha que não queima madeira, mas circuitos — fogo frio que aquece corpos dançantes.

The Robots – Wikipedia


📐 47. Grid Cósmico

Bauhaus → Spacelab

A grade modernista não ficou na prancheta: ela se projetou para o espaço. No palco vermelho-preto de Kraftwerk, o construtivismo vira plataforma de lançamento psico-tecnológica. O Grid Cósmico é racionalidade que colide com delírio, disciplina transformada em nave, cartesianismo expandido em viagem.

Latter-day Bauhaus? Muriel Cooper and the Digital Imaginary


🌈 48. Concreto Psicotrópico

Abstração que lateja cor e transe

Do Concretismo brasileiro às transgressões neoconcretas de Oiticica & Clark, a rigidez geométrica se abre para sensorialidade e participação. O Concreto Psicotrópico é forma que vibra, que pulsa como cor viva, que convida à vertigem. Uma geometria expandida pelo corpo, pelo som, pela experiência psicotrópica da cor e do espaço.

The Pliable Philosophy of Brazilian Geometric Art – Hyperallergic
Lygia Clark and Helío Oiticica: A Legacy of Interactivity and Participation for a Telematic Future – ISEA


🌊 49. Sinal Transoceânico

Uma marca radical de inovação artística

Mais que estilo, o Sinal Transoceânico é gesto de travessia. Da Rússia construtivista ao futuro tropical, da vanguarda europeia à reverberação global, ele carrega a visão radical de que arte e arquitetura remodelam sociedades. É marca que atravessa mares e continua a redesenhar horizontes.

Revolutionary Art: A Deep Dive into Russian Constructivism – 1st-Art-Gallery.com


🤖🌱 50. Robô-Raiz

Máquina que germina

O robô de Kraftwerk não é apenas máquina — é semente. Plantado na varanda agroflorestal, ele brota como híbrido: interface entre silício e seiva. O Robô-Raiz é metáfora de um futuro onde algoritmos se enlaçam com raízes, onde o maquínico não substitui, mas germina junto.

Image Non-Stop: Kraftwerk Iconography – PRINT Magazine


🌀 51. Espaço-Labirinto

Do “Spacelab” ao Solo-Oráculo

O laboratório não é estéril: é campo fértil. Sons, símbolos e plantas se enredam, e o que parecia tecnologia fria se revela como terreno vivo. O Espaço-Labirinto é travessia: do palco cósmico ao chão-oráculo, do gesto ao prompt, matéria que sonha em silêncio e se reorganiza em espirais.

Do gesto ao prompt: Luxúria Cosmológica — Carta II: Fragmento Contínuo (matéria sonha em silêncio)


✈️ 52. Abstração Migrante

Formas que viajam sem passaporte

A geometria não conhece fronteiras. Do construtivismo russo às capas do techno alemão, das revistas futuristas aos ateliês tropicais, a Abstração Migrante atravessa séculos e oceanos. Forma nômade, fluxo sem alfândega: é linguagem que carrega consigo os rastros de todas as paisagens por onde passou.

Some May Work As Symbols – The Guardian

II. Exercícios de ativação simbiótica

1. Ativar o Wedge Vermelho

  • Recorta um triângulo vermelho em papel grosso; posiciona‑o sobre qualquer superfície rígida (mármore, azulejo, tela).
  • Ilumina com lanterna ou vela e observa a sombra – será sempre uma cunha móvel.
  • Fotografa em PB e, no editor, troca o vermelho original por rosa‑ipê para linkar ao teu tronco‑oráculo.

2. Fermentar um Robô‑Raiz

  • Desenha o ícone robótico minimal (quadrado + antena) num papel‑semente.
  • Enterra em vaso de jaca; rega com solução de Toddy.
  • Quando o broto surgir, nomeia‑o “Raiz‑Man‑Machine”. Documenta semanalmente.

3. Cartografar o Grid Cósmico

  • Coloca a capa de “The Man‑Machine” ao lado de um print de Lissitzky e de uma obra neoconcreta; traça linhas de força que unem ângulos, cores e vazios.
  • Cada intersecção vira potencial título de obra futura (ex.: “Ângulo 23 – Pulso Vermelho”).

III. Genealogias e vibrações cristalinas

Constructivismo ↔ Kraftwerk

A combinação vermelho‑preto da sleeve de “The Robots / Spacelab” ecoa diretamente a gramática visual da propaganda soviética de 1919, atualizando‑a como pop eletrônico em 1978. Beat the Whites with the Red Wedge – Wikipedia. A escolha geométrica intenciona “máquina total”, a Gesamtkunstwerk sonora‑visual que a banda perseguia. Image Non-Stop: Kraftwerk Iconography – PRINT Magazine.

Bauhaus Pós‑Psicodélica

Em plena década de 1970, o design bauhausiano foi reapropriado por cenários contraculturais, articulando crítica às utopias modernas Latter-day Bauhaus? Muriel Cooper and the Digital Imaginary – bauhaus-imaginista.org. Essa “segunda Bauhaus” influenciou capas de discos e instalações de luz nos clubes techno – uma paleta que agora reaparece em diálogo com as pinturas‑solo”.

Brasil Concreto e Além

Manifestos concretos (1956) e neoconcretos (1959) convocavam a participação do observador e defendiam uma “arte viva” – antevendo a atual fusão de organismos e códigos. Form and Feeling: The Making of Concretism in Brazil – ReVista: Harvard Review of Latin America Oiticica denomina “cor‑pura em vibração”, prefigurando tuas membranas translúcidas. The Pliable Philosophy of Brazilian Geometric Art – Hyperallergic Brazilian Concrete art – The Museum of Modern Art.

Prometheus Preto e Vermelho

A peça feita de galhos, cordas e tintas e cera vermelha e preta incorpora um “braço” de tecido e material combustível que é aceso durante a performance, exalando fumaça aromática. Em sua forma híbrida, meio orgânica meio artificial, a escultura evoca a figura mítica de Prometeu trazendo o fogo – aqui um fogo vermelho e preto, de cheiro intenso, que liga arte, política e tecnologia. Prometheus Vermelho e Preto de Rodrigo Garcia Dutra, 2025.


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