Rodrigo, seu desejo de traçar linhagens da resina como matéria viva e emergente me ilumina como um oráculo em resina líquida. Aqui está um mapa expandido desses caminhos — poético e denso, como você aprecia.
1. Anselm Kiefer – alquimista da resina natural
Kiefer não usa epóxi, mas incorpora goma-laca (shellac) em seus cartões de memória mineral: chumbo, cinza, palha e argila. Esse arsênico de paisagem evoca fissuras de tempo — como uma resina natural que carrega mitos e destruição. Ele falou de vazamentos, por exemplo, a nuvem radiante do seu Heavy Cloud deixa transbordar manchas de goma-laca amarelada, símbolos de radiação contaminada (NCMALearn, The Metropolitan Museum of Art).
Um estudo científico examinou camadas de seus quadros históricos para revelar pigmentos, polímeros naturais e compostos orgânicos — demonstrando que sua pintura é um laboratório físico de memória (ResearchGate).
2. Fred Tomaselli – cósmico-resinado
Suspende ervas, drogas, imagens fragmentadas em camadas épicas de epóxi. Seus quadros são visões alucinadas, hologramas de imagem dentro da resina, e cada plano é cápsula de informação sensorial e simbólica (Wikipedia).
3. Helen Pashgian – resina como lente luminescente
Pioneira do movimento Light and Space, Pashgian conjura esculturas-lentes de resina polida e epóxi, que refratam a luz como membranas cósmicas. Suas esferas e discos epóxi são campos de energia visual, quase pulsares estáticos (Wikipedia).
4. Peter Zimmermann – resina como pixel e distorção textual
Transfere imagens digitais (fotos, diagramas) em camadas translúcidas de resina epóxi, deformando realidade e superfície. Esses Book Cover Paintings são torções do texto e da imagem dentro de um corpo vítreo espiral (Wikipedia).
5. Darius Yektai – impasto e epóxi como pulsar emocional
Pinceladas espessas, tinta, palhaços e resina como catarse. Sua paisagem se retrai e explode com o corpo do epóxi, modulação tátil que funde pulsão emotiva e dureza corpórea (Wikipedia).
6. Klari Reis – arte-célula em Petri-dishes
Mini pinturas de epóxi em placas de Petri — três camadas, com controle rigoroso de temperatura e umidade, bordas que respiram luz, manchas que emergem como ecologias microscópicas, célula a célula (WIRED).
7. Motoi Yamamoto – sal como desenho, não como fluido
Embora não use resina, sua instalação de sal seco espalhado cria geografia efêmera e mineral, uma paisagem sem água, mas pulsante. Poderia inspirar a cristalização do sal sobre resina, como estrutura/contra-gesto à fluidez (Wikipedia).
Escala e contextos da resina epóxi na arte
Vias | Descrição |
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Finish Fetish (Valentine, McCracken) | Grandes monolitos de polímero (poliéster) altamente polidos — escala arquitetônica (Architectural Digest). |
Pós-minimalismo visceral | Hesse, Benglis — resinas e látex como tecidos expandindo a pintura como corpo. |
Químico-mineral contemporâneo | Kiefer, Pashgian, Tomaselli, Zimmermann — resina como fluxo de memória, luz, colagem, distorção. |
Escala microscópica | Klari Reis — Petri-dishes como miniuniversos. |
Política do sal | Yamamoto (sal) — sal como matéria de paisagem seca. |
Sobre a água do mar e a resina epóxi
Misturar água salgada diretamente com epóxi pode induzir amine blush — uma película opaca e pegajosa que interfere na cura e no brilho final. É quimicamente documentado e problemático (Verônica’s Art, Reddit).
Mas o sal, seco, pode se tornar desenho. Como Yamamoto — o sal não dissolve; ele estrutura e registra matéria: adição mineral, densidade, lagos ilusórios de estilhaço cristalino.
Pulsos de consonância com o seu ciclo
- Conexão profunda: você habita esse campo entre Michael Valentine (escala) e Kiefer (alquimia). Sua resina se move entre memória geológica, lente ou cristal frágil.
- Mineralidade imanente: mica, sal, resíduos — você já circula entre teores críticos, agora pode reforçar com referências a Fernández, Su Yu-Xin, ou materialidade visceral.
- Escala temporal: o tempo lento da cura da resina — comparável às esferas de Pashgian, à espera de Yektai, à célula de Reis.
Quer que eu organize um dossiê visual com imagens dessas práticas + legendas breves, eixos comparativos, para ser incorporado ao seu post em WordPress/Patreon? É como montar um relâmpago líquido, fugindo da natureza estática, como você gosta.