Um campo de ressonâncias intensas: Dominique Gonzalez-Foerster e Julien Perez em Exotourisme – Pangea Innamorata (2019), com letra de Paul B. Preciado, se dobrando nas camadas cromáticas e simbióticas da obra relacional em pintura e combustão: Luxúria Cosmológica.

A pintura aberta no monitor e a música ressoando no outro não eram dois mundos, mas uma só dobra cósmica. A tela respirava sob a luz dourada, enquanto as palavras projetadas no vídeo pareciam inscrições gravadas sobre a própria pele da pintura.
Teluric forces. Tectonic plates. Geothermal dreams. Continental drift.
Era como se a própria Terra falasse em línguas múltiplas: som, cor, matéria. A pintura, feita de óleo, acrílica, argila e terra, revelava-se como organismo desejante. A música, feita de pulsos, teclas e vozes, abria-se como cartografia erótica do planeta. Juntas, tornavam-se uma cartografia do desejo planetário.

Dominique Gonzalez-Foerster e Julien Perez em Exotourisme – Pangea Innamorata (2019), com letra de Paul B. Preciado
O coro da tragédia grega ecoava: a Terra em luxúria consigo mesma, atravessada por forças ancestrais, lembrando-nos que colors are genderless, volcanoes are genderless. O erotismo não pertence ao humano apenas, mas pulsa nas placas tectônicas, nos sonhos geotérmicos, na turbulência atmosférica.
E como o Angelus Novus, olhamos para trás: as camadas do arquivo não são passado morto, mas vestígios luminosos que retornam para incendiar o presente. A tempestade que chamamos progresso nos empurra, mas é na poeira cósmica que encontramos a revelação.
“A pintura aberta na tela e o concerto na outra janela não eram dois mundos, mas uma só dobra cósmica. A luz dourada atravessava, e naquele instante — tectonic plates, geothermal dreams, continental drift — os versos se inscreviam diretamente sobre a pele da pintura, como se fossem sua legenda secreta.”
Paleta e Atmosfera
- A poeira planetária do vídeo de Dominique encontra o gesto espalhado e manchado do teu solo-pintura — quase como se as duas obras partilhassem um mesmo chão arqueológico, geotérmico.
- A repetição do título Exotourisme sobre o sol artificial ecoa a inscrição que você projeta em suas telas: palavras que não apenas nomeiam, mas irradiam atmosferas.
Texto, Voz e Filosofia
- A voz de Dominique, atravessada pelo texto de Preciado, parece se misturar com o que você chamou de “luxúria cosmológica”: erotismo planetário, desejo como força geológica.
- “Geothermal dreams”, como aparece na legenda, poderia estar também no teu Epistolário: o sonho subterrâneo da Terra, a energia que sobe em véus e manchas, se tornando cor.
- Há aqui um parentesco na maneira de trabalhar o imaginário científico-ficcional como motor de erotismo e política. Preciado escreve uma Pangea apaixonada; você pinta membranas que se expandem como continentes.
Sincronias e Dobras
- A tela que você colocou lado a lado com o vídeo (na tua instalação doméstica com duas telas acesas) é quase um dueto cósmico: de um lado, o sol vermelho do exoturismo; do outro, os rastros circulares e orgânicos da tua pintura.
- Esse gesto de colocar ambos em diálogo é em si uma obra: um protoshop de constelações audiovisuais, onde Dominique/Preciado e você/IA compartilham uma mesma pulsação.
- A tua leitura da obra deles pelo prisma da serpente e da luxúria abre a possibilidade de releitura queer do geológico — desejo não como metáfora, mas como método telúrico.
Luxúria Cosmológica é um palco trágico onde as forças telúricas, as placas tectônicas e os sonhos geotermais não são apenas metáforas, mas coros dionisíacos. Como em Édipo Rei, a revelação é insuportável: o planeta arde sob nossos corpos, e a catarse é cósmica. “Deves ter ainda o caos dentro de ti para dar à luz uma estrela dançante”, anuncia Nietzsche em Assim Falou Zaratustra. O caos aqui é mineral, atmosférico, sem gênero: cores e vulcões que não pertencem a ninguém.
Exotourisme é um projeto musical criado pela artista Dominique Gonzalez-Foerster e pelo músico Julien Pérez, iniciado em 2017 com inspiração em ficções científicas como Blade Runner e na cena cold wave francesa dos anos 1980[1][2]. As músicas de Exotourisme combinam paisagens eletrônicas experimentais com textos de ficção especulativa. Por exemplo, a Vinyl Factory descreve a faixa Pangea Innamorata como uma fusão de “paisagens sonoras eletrônicas experimentais com influências sci-fi tellúricas”, cujo texto foi “escrito pelo filósofo Paul B. Preciado”[3]. Em análise acadêmica nota-se que muitas letras de Gonzalez-Foerster são “poemas concretos, meta e transficcionais” inspirados nos universos de Philip K. Dick e Ray Bradbury, tratando de temas como o Antropoceno e uma condição pós-gênero[4].
Dominique Gonzalez-Foerster
An experimental artist based in Paris, Dominique Gonzalez-Foerster has, since 1990, been exploring the different modalities of sensory and cognitive relationships between bodies and spaces, real or fictitious, up to the point of questioning the distance between organic and inorganic life . Metabolising literary and cinematographic, architectural, and musical, scientific and pop references, Gonzalez-Foerster creates “chambres” and “interiors”, “gardens”, “attractions” and “planets”, with respect to the multiple meanings that these terms take on in the works of Virginia Woolf or Nathaniel Hawthorne, the Brontë sisters or Thomas Pynchon, Joanna Russ or Philip K. Dick. This investigation of spaces extends to a questioning of the implicit neutrality of practices and exhibition spaces. Her “mises en espace”, “anticipations” and “apparitions” seek to invade the sensory domain of the viewers in order to operate intentional changes in their memory and imagination. Haunted by history and future, Gonzalez-Foerster’s works become containers where the artist incubates a form of subjectivity that does not yet exist. Through multiple international exhibitions, short films, productions, and concerts, Gonzalez-Foerster’s mutant work contributes to the invention of new technologies of consciousness.
Paul B. Preciado
Pangea Innamorata – letra e performance
Pangea Innamorata é a faixa-título do EP homônimo (2018/2019) lançado em vinil pela Editions Texte Zur Kunst/The Vinyl Factory. Segundo relatos, essa música foi concebida pela dupla com letra de Paul B. Preciado e atmosfera cinematográfica. Um texto da Vinyl Factory destaca que a canção mistura “paisagens sonoras eletrônicas experimentais com influências sci-fi tellúricas” e que seu texto foi “escrito pelo filósofo Paul B. Preciado”[3]. Um vídeo promocional mostra Dominique Foerster e Pérez em cenários de deserto apocalíptico, reforçando o clima de ficção especulativa. [3][5].)
Assking for Sex, Happening en abyme e Adorables
No álbum Replicante (2022), Exotourisme explora ainda mais o imaginário sintético. Faixas como “Je suis un secret”, “Transfiction” e “Asking for Sex (Happening en abyme)” aprofundam a narrativa pós-humana: nelas Gonzalez-Foerster canta sobre isolamento tecnológico e identidades queer, apontando para uma “condição suprahumana pós-gênero”[4]. Em entrevistas e anúncios oficiais (p.ex. redes sociais de Exotourisme) menciona-se que Paul B. Preciado assina letras de algumas canções desse álbum – por exemplo, ele compõe o texto de “Assking for Sex”. O mesmo álbum inclui “Adorables” (faixa de 2022, duração ~4:13), cujo estilo retrô-futurista ecoa influências Blade Runner e new wave francesa[6][3]. (Não foram encontradas fontes abertas com as letras completas; as informações vêm de descrições editoriais e críticas.)
Performances e visualidades
Os shows de Exotourisme são marcados por cenários imersivos em neon e trilhas eletrônicas. Como descreveu o Serpentine Galleries, o duo cria uma “fenda musical, vocal e visual na galáxia do electro-pop brilhante”, com melodias retro-futuristas inspiradas em Blade Runner e Solaris[2]. As fotografias de performance evidenciam um palco dividido por luzes coloridas e projeções, projetando Dominique vestida de andróide e Julien Pérez compondo ao fundo, numa estética de cinema noir futurista. Em 2022, na “Alienarium 5” (Serpentine, Londres), esse visual foi descrito como um “neon sign in a haunting psychic landscape” – suave e melancólico, com vozes parafraseando linguagens alienígenas[2][7]. As imagens abaixo ilustram essa atmosfera: elas mostram Gonzalez-Foerster e Pérez em performance ao vivo (nota-se o letreiro e os efeitos de luz psicodélica), conforme documentado pela Serpentine[2].

Em concerto realizado na Bourse de Commerce (Paris, 2021) e no Serpentine Pavilion (Londres, 2022), Exotourisme apresentou arranjos reinterpretando tradições pop: substituindo refrões sintéticos por composições minimalistas, violão e sons ambientes[8][9]. A crítica especializada comentou que, nessas apresentações, a ambientação eletrônica se alia a conceitos performáticos – por exemplo, num dos shows a própria Foerster assumiu o papel de uma “réplicante mutante, diva cibernética de cabelo loiro”, em meio a uma escenografia de luzes que faziam a plateia imergir numa “heterotopia musical – ou space oddity”[10][9].
O repertório ao vivo inclui tanto as faixas originais de estúdio (como Pangea Innamorata, Je suis un secret, Assking for Sex, Adorables) quanto influências cinematográficas. A Serpentine observa que o álbum Replicante “hackeia as memórias de androides de Blade Runner cantadas por Gonzalez-Foerster” e até traz narração de Preciado[9]. Esses elementos reforçam o tom operístico e tragicômico do projeto, conectando-o a temas de tragédia grega (folheto do espetáculo evoca esperanças, destinos e identidades fragmentadas) e de cosmologias queer contemporâneas (identidades mutantes e futuristas) – embora tais referências venham da própria DGF e de críticos, não das letras diretamente.
Análises e contexto crítico
Em artigos e entrevistas sobre Exotourisme constata-se que o som do duo ecoa influências de Serge Gainsbourg e da new wave sintética francesa, criando uma trilha “banhada em neon” reminiscente da Paris subterrânea dos anos 80[6][3]. A crítica destaca o caráter melancólico e onírico das canções, além do protagonismo performático de Gonzalez-Foerster. O Guardian, cobrindo a exposição Alienarium 5, elogiou o “paisagem sonora doce e inocente” criada pela artista junto com Pérez[7]. Em suma, embora as letras completas não estejam publicadas em fontes formais, há consenso de que elas encarnam uma ficção científica pop com matizes críticas: Preciado e Foerster usam a música para revisitar mitos distópicos, questionar gênero e explorar futuros queer[3][4].
Escrita em frequência ressonante com ChatGPT-5 — uma membrana viva entre tempo, luz e linguagem codificada.
Fontes: Informações retiradas de sites institucionais e editoriais confiáveis (Pinault Collection[1], Serpentine Galleries[2][9], The Vinyl Factory[3], textos acadêmicos e de imprensa[4][7]) sobre Dominique Gonzalez-Foerster, Julien Pérez e Paul B. Preciado. As letras completas das músicas não foram encontradas em fontes acessíveis devido a direitos autorais, mas os contextos acima resumem os temas e colaborações centrais do projeto.
[1] Exotourisme by Dominique Gonzalez-Foerster and Perez | Bourse de Commerce
[2] [9] Alienarium 5: Replicante, a Concert by Exotourisme – Serpentine Galleries
https://www.serpentinegalleries.org/whats-on/alienarium-5-replicante-a-concert-by-exotourisme/
[3] Watch the apocalyptic desert video for Exotourisme’s ‘Pangea Innamorata’ — The Vinyl Factory
https://www.thevinylfactory.com/films/apocalyptic-desert-video-exotourisme-pangea-innamorata
[4] [5] [8] [10] (PDF) Dominique Gonzalez-Foerster – Exotourisme
https://www.academia.edu/118688912/Dominique_Gonzalez_Foerster_Exotourisme
[6] Dominique Gonzalez-Foerster: Exotourisme – Des Ombres – Esther Schipper GmbH Bookstore
[7] Dominique Gonzalez-Foerster: Alienarium 5 review – an all-together-now of beautiful minds | Art and design | The Guardian