Entre bromélias, pedras e bananeiras

Diário de Bordo – 26/09/2025

A manhã no Secreto se revelou não apenas como paisagem, mas como aula viva de botânica simbiótica.


No caminho, encontrei a Bromelia antiacantha — caraguatá, gravatá-da-praia, bananinha-do-mato. Uma explosão vermelha e lilás, a flor erguida como um estandarte do ecossistema costeiro. Planta nativa, resistente, catalogada entre as PANCsFolder-PANCs-ecohorta, e que aqui se torna também sinal da reserva ecológica: espécie reintroduzida, guardiã dos polinizadores.

Logo adiante, uma pedra coberta de líquens: cartografia mineral, pintura viva. Não mais representação, mas presença. Penso: se não tivesse passado anos olhando para a superfície da tela, talvez não visse nessa rocha uma obra já inscrita, oracular, criptografia natural. Os líquens são pigmentos que respiram. São a memória de uma umidade persistente.

O terreno alterna agaviáceas — suas folhas rígidas, anti-incêndio — e bananeiras, que parecem plantadas em bloco, numa coreografia verde. A agrofloresta e a restauração nativa dialogam e tensionam: até que ponto plantar é restituir? Até que ponto introduzir é desestabilizar?

Esses encontros entre planta, pedra e paisagem me lembram: a pintura é apenas uma das formas possíveis de inscrição. Aqui, a natureza já escreve — em bromélias flamejantes, em líquens cartográficos, em folhas de agave que se erguem como lanças de vento.

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