Shelter Vivo — um abrigo para os cupins, uma comunidade subterrânea e invisível à primeira vista. Levado pelo vento, pelo peso, pela necessidade de apoio no espaço aberto, e ao se aproximar, encontrou um microcosmos pulsando.
Esse gesto, de quase erigir um shelter e depois devolver o tronco ao mato, é um movimento de atenção ética: reconhecer que a matéria já estava habitada, que o abrigo não precisava da sua mão porque já estava em uso. Isso ecoa o que você disse — abrir interseções de planos multidimensionais.

Aqui, o cosmos não é só macro, não é só a nave que rasga o espaço em 2001: Odisseia no Espaço; é também o micro, o minúsculo mundo termítico que te olha de volta, vibrando no mesmo eixo.
Na cena de Kubrick, o osso arremessado ao céu se torna nave: salto de eras, de hominídeos ao espaço interestelar, a maior elipse do cinema. No seu gesto, há uma elipse inversa: da ambição cósmica à humildade do inseto, da colônia invisível ao silêncio do mar. Uma dobra, não de avanço tecnológico, mas de escuta ecológica.
O tronco, na pedra diante do oceano, é quase um instrumento cósmico:
– o vento esculpe,
– o mar ressoa,
– os cupins constroem labirintos,
– você observa, intercede e devolve.
Essa cena se instala como uma miniatura de sua prática:
– o shelter como campo simbiótico,
– o objeto encontrado como oráculo,
– a vida invisível como matéria cosmológica.





O tronco encontrado na pedra não era matéria morta. Era um shelter microcósmico, pulsando com a engenharia dos cupins: labirintos de saliva e madeira, corredores de sombra e calor. Um abrigo invisível ao olhar apressado, mas pleno de vida subterrânea. O gesto de erguê-lo contra o vento, como se fosse coluna ou mastro, revelou que não era um objeto vazio — era já um organismo. O abrigo, nesse instante, deixou de ser projeto humano e revelou sua autonomia: o shelter existe antes de nós, feito da obstinação de insetos, do trabalho paciente de bocas e antenas.
O encontro ressoava com a grande elipse de Kubrick: o osso arremessado que corta milhões de anos até a nave. Ali, diante do mar, o tronco era também um osso pré-histórico, um fragmento que poderia se tornar nave, arquitetura, metáfora de ascensão. Mas o salto de escala se inverteu: em vez de nos projetar ao cosmos tecnológico, conduziu ao cosmos minúsculo dos cupins. A viagem interestelar desceu ao subterrâneo, e o abrigo revelou que a consciência não se mede pelo tamanho do salto, mas pela intensidade do vínculo. O macro e o micro se dobram como fitas de Möbius: o tronco é nave e colônia, é ferramenta e organismo, é fragmento e infinito.
Ao perceber a vida secreta sob a casca, o gesto não foi de posse, mas de devolução. O tronco voltou ao mato, à sua paisagem primeira, reintegrado ao ciclo. Esse ato é parte do ritual do shelter: reconhecer que nem todo abrigo nos pertence, que muitas vezes somos apenas testemunhas de sua potência. Devolver é um modo de construir — não no espaço físico, mas no espaço simbólico da atenção. O abrigo se fez rito, e a ética foi inscrita no gesto: não erigir, não colonizar, mas permitir que o organismo continue sua própria narrativa. O ritual do shelter é, assim, um pacto de coexistência: um convite a viver na dobra entre o visível e o invisível, entre o humano e o mais-que-humano, entre o osso e a estrela.

Dobra mitopoética: o Sol atirando plasma contra o 3I/ATLAS é quase uma cena extra de 2001. Como se o monólito não bastasse, agora temos o astro-rei, pai arcaico e furioso, disparando um “tiro” em direção ao visitante interestelar — um gesto de reconhecimento, desafio ou até purificação.
Do ponto de vista científico, a matéria fala de algo inédito: nunca antes um objeto interestelar (ʻOumuamua, Borisov ou agora ATLAS) foi atingido por uma ejeção de massa coronal. É literalmente a primeira vez que a astrofísica pode observar esse tipo de encontro.
Do ponto de vista simbólico, isso abre camadas:
- O plasma solar é tanto destrutivo quanto gerador. No xamanismo amazônico, o fogo solar é sempre também energia de transformação — queimando e criando, nunca só um fim.
- O cometa interestelar já era um mensageiro mítico, portador de química estranha (CO₂ em excesso, níquel sem ferro). Agora, ao ser alvejado pelo Sol, ele vira um “corpo de prova”, uma tela cósmica que recebe o gesto ígneo da estrela.
- Em chave psicodélica: esse disparo é como a dose que rompe camadas da consciência — o plasma que obriga o visitante (e nós, espectadores) a atravessar uma epifania.
Kubrick teria filmado isso como?
Talvez como uma colisão entre o olho vermelho de HAL e o olho do cometa, fundidos num clarão de plasma.
Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 através de gotas, planos e deformações cósmicas.