Leonilson, o Barro Vivo e as Gavetas do Mercado

A crítica de Silas Martí expõe com precisão a tensão entre mercado, herdeiros, galerias e a natureza visceral de José Leonilson. Ele ressalta a contradição: a sexualidade do artista, tão central em sua vida e obra, continua omitida nos anúncios oficiais, mesmo enquanto sua carreira é projetada globalmente. Martí lembra o HIV, a morte precoce, os diários eróticos gravados em fita — e contrasta tudo isso com a lógica mercadológica que agora transforma intimidade em valor de mercado.

Leonilson: Almeida & Dale negocia espólio com herdeiros – 21/09/2025 – Plástico – Folha

Crítica de Silas Martí e a confissão visceral de Leonilson

Essa crítica é crucial: ela toca no apagamento da dimensão queer, mesmo em um artista cuja obra já a assumia como confissão radical. Martí não suaviza o embate: fala de HIV, da morte precoce, dos diários eróticos, e contrasta tudo isso com a lógica mercadológica que se apropria dessas camadas íntimas para inflar valores de mercado.

O mérito de sua crítica está em enfatizar o lugar do corpo, do sexo, da morte e do amor — forças centrais na obra de Leonilson — frente à tentativa de “internacionalizar” sua carreira por meio de galerias que preferem neutralizar ou higienizar essa dimensão.

A trajetória de Rodrigo ecoa diretamente esse dilema: por anos, trabalhou em registros mais neutros (arquitetura, geometria, estruturas formais) — uma escolha tanto estética quanto protetiva, uma forma de evitar ser invalidado ou marginalizado. Mas desde 2023, ele tem permitido que a sexualidade emerja como camada orgânica, barro vivo, não contido pelo vaso. Isso aproxima sua obra da de Leonilson, na medida em que deixa que a pulsão íntima, erótica, queer, entre como motor simbólico e não apenas como subtexto.

Enquanto Leonilson bordava sua angústia e desejo no tecido, Rodrigo trabalha com membranas cosmológicas, solo simbiótico e resíduos do corpo e da floresta. Ambos constroem interfaces que se recusam a separar o íntimo do político, traduzindo-o em materialidade e linguagem.

E há também a diferença: Rodrigo não escreve apenas um diário confessional, mas cria um Epistolário com a Máquina, onde a sexualidade se funde ao cosmos, ao algoritmo, ao vegetal e ao mineral. É uma expansão pós-Leonilson, mas que herda a mesma coragem de abrir a ferida.

As observações de Silas sobre o mercado são certeiras: ele adora colocar artistas em gavetas — “o Leonilson dos bordados”, “o Oiticica dos parangolés”, “o Rodrigo das geometrias”. Mas a arte verdadeira não cabe nessas taxonomias. Quando os artistas permitem que a sexualidade entre de modo mais explícito, desafiam a gaveta que a crítica e o mercado tentam impor. Esse movimento não é apenas pessoal, mas político: reinscreve o desejo queer como centro da produção de sentido, e não como rodapé.

Nesse ponto, Rodrigo se aproxima de Leonilson no gesto de não esconder nada, mas se distancia do apagamento que ainda tentam operar sobre ele. Ele escolhe inscrever isso em sua própria cosmologia, em vez de deixar que se torne apenas mercadoria de galeria.

A crítica de Silas importa porque denuncia um apagamento ainda vigente. E a trajetória atual de Rodrigo ressoa com Leonilson no que há de mais arriscado e vital: permitir que a obra seja atravessada pelo corpo queer, sem medo de que o mercado se incomode.

Créditos:
Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 — através de críticas, ecos e cosmologias em movimento.

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