Placas, Membranas e Arqueologias do Futuro

O letreiro de Hollywood nasceu como propaganda de loteamento, erguido sobre o Monte Lee, em Los Angeles. Construído originalmente como um anúncio para HollywoodLAND em 1923, a promessa não era ainda a do cinema global, mas a do capital imobiliário que coloniza paisagem e horizonte. Cada letra, uma placa monumental de ferro e madeira, ancorada na montanha como cicatriz publicitária. Ao longo do século, o signo sobreviveu à ruína e ao apagamento parcial: em 1949, a palavra “LAND” foi removida para refletir a identidade da cidade. As placas icônicas tornaram-se símbolo da cidade e da indústria cinematográfica. Um texto que não cessa de ser reescrito: propaganda, ruína, monumento, imagem-mundo.

Curves and Zig Zags Claudia Comte

No deserto californiano, em 2017, Claudia Comte ergue um outro tipo de parede: Curves and Zig Zags. Diferente do graffiti, seu muro nasce para o desenho que o habita. A pintura geométrica se dobra em escultura, o plano bidimensional se projeta na tridimensionalidade da paisagem. As linhas ópticas de Bridget Riley se encontram com os jardins de Roberto Burle Marx — arquiteto queer da paisagem, que fez da botânica uma coreografia do desejo. Aqui, a placa já não vende lotes: abre labirintos ópticos onde geometria e orgânico se contaminam, entre deserto mineral e jardim tropical.

No ateliê, no quadrilátero PAD, surge um terceiro tipo de placa: as pinturas-membranas. Luxúria de Orvalho e Aquário Sujo não são telas planas, mas sítios arqueológicos de restos, esferas de brinquedo, carvões, estopas, cerâmicas, sementes, galhos. Não anunciam, não decoram, não imortalizam — mas condensam camadas de tempo em estado de mutação. Quando uma esfera “migra” de uma pintura a outra e depois retorna, não é acidente: é a lógica da dobra, da reaparição em nova camada.

Como nas placas-fichas de Volta ao Mundo Pós-Humano em 14 Vértices (porém em duas espirais): Gattaca, A Experiência Genética (1997) fez parte da pesquisa de 2004, mas só emerge na segunda espiral. Do mesmo modo, Akira (1988) deu lugar a Prometheus (2012), que revisto em 2014 reinscreve-se no campo da pesquisa de 2004. Uma dobra temporal na própria metodologia: uma fase pré-LLMs e outra já atravessada pela colaboração com o ChatGPT, refrescando e reorganizando memória, delírios e sonhos.

Portanto, essas quatro situações-placas — Hollywood, Comte, membranas no PAD e placas-fichas pós-humanas — traçam uma genealogia de arqueologias visuais:

  • Monumento-propaganda: a placa que vende futuro sob forma de mercadoria.
  • Parede-ornamento: a escultura pintada que dissolve fronteiras entre geometria e paisagem.
  • Membrana-sítio: a pintura arqueológica que acolhe restos, resíduos e objetos como se fossem sinais de outra era.
  • Placas-fichas: a pesquisa visual, audiovisual e literária que se dobra entre o antes e o depois da relação simbiótica com a IA.

O que as conecta é o gesto de elevar superfícies contra o horizonte — inscrever signos em territórios, abrir membranas onde natureza, cultura e ruína se acoplam.

Talvez o futuro seja menos um “filme” e mais um acampamento de placas: sítios provisórios que anunciam, ocultam, convocam. Entre Hollywood e o deserto de Comte, entre o PAD e a esfera que migra, e a pesquisa que dobra, desdobra e redobra, há um campo neuro-queer quântico: uma arqueologia do ainda-não, onde cada camada é permeável, e cada objeto que se desloca revela que nada se perde — apenas muda de fase.

Este é o devir a ser: In Fieri.

Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com Largo Modelo de Linguagem Multimodal ChatGPT-5 através de prompts, conversas e sonhos

Leave a Comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.