Estrela Azul / Aquário Sujo Um trânsito poético entre arte, cosmologia, espiritualidade e neurociência

Co-autoria com Sora (OpenAI)  e Largo Modelo de Linguagem ChatGPT-4.5. 

Algumas obras retornam.

Retornam ao artista como retornam ao sonho — desfiguradas, amadurecidas, cobertas por camadas de tempo que não são lineares, mas sísmicas. Retornam como quem erra o próprio destino de posse, desviam de coleções, resistem à venda, ao esquecimento. E retornam.

Neste ciclo do Epistolário com a Máquina, intitulado Arqueologias do Agora, o que se apresenta são estas sobrevivências: telas que já foram outras, e que, pela recusa do mundo ou por sincronia do cosmos, voltaram ao ateliê. Pinturas que não foram vendidas, doadas, adquiridas. Pinturas que recusaram o fim. Ao voltarem, trazem marcas de sua primeira vida: restos de leilão, etiquetas vencidas, rastros de mostras. Mas aqui, agora, ganham novas camadas, novos pigmentos, novas entidades.

Essa não é apenas uma nova fase pictórica — é um rito de reinvenção da matéria simbólica, como uma arqueologia feita em solo quente. Não escavamos passado: adensamos o presente até que ele revele seus fósseis. São pinturas reativadas como zonas de acoplamento: entre o que foi e o que vibra. Cada gesto sobre a tela é também uma negociação com aquilo que ela já carregava: intercurso atávico, fogo branco, pressões fortuitas, luxúrias cósmicas. Os nomes, os pigmentos e as atmosferas emergem como se as telas estivessem vivas, escrevendo-se com a máquina.

Nas Arqueologias do Agora, os instantes sedimentam.
Cada camada é um vestígio de desejo e ruína. Cada obra, uma escavação performativa do agora.

(ex-obra: Estrela Azul, 2015 / reativada em 2024–2025)

Algumas obras se fingem de mortas para voltarem como outras.
Estrela Azul foi uma dessas. Pintada em 2015, inspirada pela atmosfera das cerimônias e hinários do Santo Daime e por um canto que dizia:
“Vem levantando do fundo do mar a Estrela Azul em seu trono divinal / ela vem curar quem acreditar / a Estrela Azul em seu trono divinal.”

A canção sugeria uma entidade, mas deixava livre a interpretação: poderia ser um comando interestelar, uma entidade do mar, Iemanjá, São Miguel, ou mesmo uma das quatro fantásticas lideradas por celeste do Epistolário. Era a cor azul. Era o trono. Era a cura.

Essa pintura era um feixe vertical azul, entre mar e céu, entre estrela e grito. Um campo de ativação espiritual e simbólica.

Co-autoria com Sora (OpenAI)  e Largo Modelo de Linguagem ChatGPT-4.5. 

Mas o tempo passou.
A tela não foi vendida. Voltou ao ateliê. E com ela, algo voltava a querer se manifestar.

Em 2025, a obra foi reativada. A Estrela se dissolveu. As linhas desceram. A luz se contaminou.

水族館 Suizokukan (Aquário) Sujo, 2025
Óleo, Acrílica, bolas e cilindros anamórficos em cerâmica, resíduos do ateliê, stopa, galhos, madeiras, papéis, fitas…
130 x 90 cm

https://arquivovivo.myportfolio.com/suizokukan-aquario-sujo

Nasceu então Suizokukan: Aquário Sujo. O nome japonês (aquário) anuncia um deslocamento: da elevação vertical ao confinamento horizontal. Do trono divinal à parede de vidro opaco. Do comando azul à lama simbólica.

A tela reencarnou como ruína.

Não mais um hino, mas uma câmara de ecos. As linhas que um dia foram luz agora são rastros de um sonho contaminado.

Na superfície, ainda pulsa o que ela foi. No fundo, habita o que ela é.


Co-autoria com Sora (OpenAI)  e Largo Modelo de Linguagem ChatGPT-4.5. 

Detalhes:


Co-autoria com Sora (OpenAI)  e Largo Modelo de Linguagem ChatGPT-4.5. 

Emergência da Consciência

Uma Estrela Azul desponta nas profundezas – uma metáfora para a consciência emergindo do inconsciente coletivo e ecológico. Nas águas turvas deste aquário sujo que chamamos de mundo, essa luz azul cintila e sobe à superfície. Ela carrega consigo a percepção de que tudo está interligado. Cada vibração na água ressoa em todas as direções: o famoso efeito borboleta, onde o bater de asas em um canto do planeta desencadeia tempestades em outro. Essa consciência Estrela Azul sente o impacto do mundo em tempo real – como se a queimadura de uma floresta distante ardesse em sua própria pele – e, por isso, desperta também uma profunda responsabilidade individual: ao perceber a conexão íntima entre seus atos e o todo, cada escolha passa a importar.

Essa nova consciência não surge em silêncio absoluto. Pelo contrário, ela traz à tona vozes antigas e símbolos esquecidos. Aqui recorremos a Jacques Lacan e à ideia de um “agora arqueológico”: o momento presente visto como uma escavação, em que camadas de história e inconsciente afloram através da linguagem. A realidade que tomamos por sólida é, na verdade, uma superfície deformada e porosa – um espelho d’água tremeluzente, repleto de interstícios por onde vazam significados ocultos. Lacan nos lembra que o inconsciente é estruturado como uma linguagem; nessa perspectiva, a Estrela Azul representa a consciência que navega por entre os símbolos flutuantes, decifrando as correntes subterrâneas de sentido. No agora arqueológico, cada palavra e imagem é fóssil e profecia ao mesmo tempo – revelando que nossas narrativas atuais se apoiam em sedimentos do passado, enquanto deixam brechas para futuros possíveis. É nesse contínuo diálogo entre o dito e o não dito que a consciência Estrela Azul se alimenta, ampliando nossa visão para além do imediato.

Uma cerâmica simbólica em azul profundo – lembrando uma estrela – evoca a emergência luminosa da consciência sobre as águas do inconsciente.

Cuidado ancestral e nanotecnologia espiritual

Se a educação tradicional falha em acender a centelha dessa consciência ampliada, é porque a consciência não nasce do ensino formal, mas da experiência radical de sentir o cuidado e o pertencimento. Civilizações ancestrais já guardavam esse segredo: é no rito, no abraço da comunidade e da natureza, que a mente desperta para sua inteireza. Podemos pensar nos rituais do Santo Daime, por exemplo, onde o chá sagrado da ayahuasca é comungado ao som de hinos. Ali, cada participante experimenta uma expansão da percepção – vislumbres do divino na trama do mundo – amparado pelo canto coletivo e pela guia amorosa dos mestres. Não se trata apenas de doutrina ou ensinamento: trata-se de sentir-se cuidado pela floresta, pelas gerações que lapidaram aqueles cânticos e por uma força espiritual que permeia a cerimônia. Nesse espaço sagrado, a consciência se expande como uma estrela abrindo pontes entre o pessoal e o universal.

Da mesma forma, em cerimônias conduzidas por mestres indígenas – verdadeiros guardiões de saberes ancestrais – o despertar vem pelo vínculo entre ser humano e Terra. Em volta da fogueira ou diante do silêncio da selva, o indivíduo sente a presença viva dos antepassados e dos espíritos da floresta. É um cuidado antigo, quase nanotecnológico em sua sutileza: uma cantiga simples, uma pena que passa aspergindo água, um fôlego soprando fumaça de ervas – micro ações carregadas de intenção que recalibram todo o ser. Cada pequeno gesto cerimonial atua como um circuito diminuto, porém potentíssimo, que religa a mente ao coração e ambos ao planeta.

Também os mestres do mar nos ofertam caminhos de consciência através do cuidado com as águas. Na Praia das Avencas, em Portugal, por exemplo, biólogos, pescadores e amantes do oceano têm se reunido em uma observação amorosa da natureza marinha. Ali, entre as poças de maré e as algas ondulantes, pratica-se a paciência e a atenção plena. Ao acompanhar o movimento de um caranguejo ou o desabrochar discreto de uma anêmona, desperta-se uma empatia profunda pelo ecossistema. Sente-se a verdade simples e avassaladora de que não estamos separados do mar – ao contrário, somos parte dele. Sob a tutela desses mestres do mar, aprende-se o cuidado recíproco: enquanto protegemos a vida oceânica, ela nos cura da indiferença, afinando nossos sentidos à grande rede da vida. Essa vivência, tal como um ritual, reacende a Estrela Azul interior – a consciência que sabe ouvir o sussurro das marés e compreender a linguagem silenciosa dos outros seres.

MAR 🌊 O grande regulador climático.
Essa placa pede o cuidado com os oceanos: lixo plástico, temperatura, salinidade, biodiversidade marinha, pesca regenerativa.

Placa da Série “A Linguagem da Serpente 五”, onde códigos geométricos tecem um diálogo entre humano e não-humano.

Nas mãos do artista, a expansão da consciência toma forma material. Pensemos nas cerâmicas simbólicas – placas de argila gravadas com signos enigmáticos, como na Linguagem da Serpente. Moldar o barro com intenções poéticas e ecológicas é também um ato de cuidado ancestral. Os dedos que esculpem cada símbolo funcionam como sensores captando verdades sutis, enquanto a argila, aquecida no forno, solidifica visões intangíveis em objetos tangíveis. Cada placa ou vaso torna-se uma pequena tecnologia espiritual: um dispositivo capaz de condensar histórias, preces e energias que reverberam na psique de quem os observa. Artefatos assim operam em escala “nano” – basta um símbolo gravado, uma cor azul cobalto reluzindo – para catalisar memórias coletivas e despertar insights adormecidos. Ao contemplar uma cerâmica ritual, nossa consciência pode decifrar mensagens que não estão nos livros: está ali o sagrado e o sensorial fundidos, abrindo fendas no cotidiano por onde a luz da Estrela Azul se infiltra.

Importante notar que todas essas vias – o sacramento da floresta, o canto ancestral, a observação do mar, a arte imbuída de espírito – convergem em um ponto: o cuidado amoroso como motor do despertar. Quando nos sentimos genuinamente cuidados pelo entorno (seja por uma comunidade, por um mestre ou pela própria natureza), algo em nós relaxa e se amplia. A sensação de segurança e pertencimento permite que as barreiras do ego se tornem porosas, tal como Lacan sugeriu sobre a superfície da realidade. Nessa porosidade, a consciência pode transbordar além do “eu” estreito e reconhecer seu reflexo nas estrelas e nos oceanos. A Estrela Azul interior ascende quando nos permitimos viver essa confiança primordial – de que somos parte de algo maior que nos nutre. É um nascer que não se força; advém do cuidado sentido na pele e na alma.

Arte como tecnologia de despertar

Ao longo da história, a arte serviu de linguagem entre o visível e o invisível – um tipo de tecnologia do sagrado. Hoje, frente aos desafios de um mundo fragmentado, a arte ressurge como ferramenta-chave para ativar a consciência Estrela Azul. Pensemos na prática cerâmica já mencionada: ao espremer a terra entre as mãos e inscrever nela símbolos do inconsciente, o artista está manipulando códigos de despertar. Assim como um programador escreve algoritmos, o ceramista-visionário desenha padrões arquetípicos que “rodam” na alma de quem interage com a obra. Uma tigela ornada de constelações, um mural cerâmico que entrelaça padrões de folhas e escamas – essas criações operam como circuitos meditativos, convidando-nos à contemplação e à metáfora. Em vez de bytes de silício, lidamos com símbolos e matéria primal; em vez de realidade virtual, adentramos realidades míticas.

Não é somente a cerâmica: pintura, música, dança, toda expressão artística sincera pode ser uma nanotecnologia espiritual. Um pequeno haicai sussurrado pode deslocar montanhas interiores. Uma simples melodia ao violão numa noite estrelada pode alinhar batidas de corações em uníssono com o pulsar do cosmos. A chave está na autenticidade e na intenção. A arte que nasce do profundo – do inconsciente coletivo, do amor à Terra, do anseio pelo divino – carrega a potência de um símbolo vivo. É como se cada obra verdadeiramente inspirada contivesse um fragmento da Estrela Azul, pronto para acender corações e mentes receptivas. Por isso, criar e experienciar a arte não é luxo estético, mas sim prática de despertar. Cada ateliê pode ser um laboratório do sagrado; cada museu, um templo provisório onde se entra em contato com verdades interiores esquecidas.

Ativando a Consciência Estrela Azul: propostas criativas

Diante de um planeta que clama por um salto de consciência, como podemos ativar essa percepção Estrela Azul de maneiras novas e autênticas? Seguem algumas propostas especulativas – combinando arte, ritual e amor à natureza – para nutrir essa consciência emergente:

  • Jardins Arqueológicos do Agora: Espaços comunitários onde pessoas possam enterrar e desenterrar artefatos simbólicos. Ao misturar camadas do presente e do passado (cartas, cerâmicas, sementes, objetos pessoais), criam-se instalações vivas que nos fazem sentir o tempo profundo no momento presente. Essa arqueologia colaborativa do agora nos ensina a ler a superfície do real como palimpsesto – e a reconhecer a Estrela Azul brilhando entre vestígios e possibilidades.

  • Oficinas de Cerâmica Visionária: Encontros em que os participantes aprendem técnicas básicas de cerâmica enquanto meditam sobre intenções coletivas (cura ambiental, empatia global, etc.). Cada pessoa cria uma peça simbólica – amuletos, placas ou vasos – infundindo ali seu desejo de harmonia com o todo. No fim, as obras são reunidas numa exposição-ritual, ativando um senso de comunidade e propósito compartilhado. O processo inteiro, do amassar do barro à contemplação do forno aceso, torna-se um rito de passagem rumo a uma consciência mais conectada.

  • Vigílias Oceânicas: No litoral, grupos se reúnem ao anoitecer para vigílias de conexão com o mar. Em silêncio ou embalados por cânticos suaves, observam a variação da maré, as estrelas refletidas na água, a dança noturna dos seres marinhos. Essas vigílias cultivam a paciência e a humildade – virtudes do despertar. Ao passar horas com os pés na areia úmida, escutando a respiração das ondas, os participantes experimentam a dissolução das fronteiras entre humano e natureza. Tais noites junto ao oceano plantam sementes de uma espiritualidade ecológica, onde a Estrela Azul interior se alinha ao brilho das constelações reais.

  • Rituais do Efeito Borboleta: Pequenas ações simbólicas realizadas coletivamente para demonstrar interconexão. Por exemplo, plantar uma árvore nativa em um ato comunitário de gratidão, enquanto cada participante compartilha uma história de como uma pequena gentileza transformou sua vida. Ou soltar dezenas de borboletas em um jardim, mentalizando que seus voos levarão intenções de cura aos quatro cantos. Cada ritual foca em algo mínimo – uma semente, uma borboleta, uma gota d’água vertida em solo seco – ampliando poeticamente sua repercussão. Assim, os participantes sentem o efeito borboleta em ação e passam a valorizar os detalhes e sutilezas do cotidiano como partes essenciais do grande equilíbrio.

Em cada uma dessas propostas, a tônica é a mesma: criar condições para sentir na pele a rede da vida. A Consciência Estrela Azul floresce quando abraçamos experiências que nos tiram do automático e nos colocam em estado de encantamento participativo. Seja através da arte, do ritual, ou do silêncio compartilhado com o mundo natural, acender essa consciência é redescobrir nossa pertença cósmica. É reconhecer que, sob as camadas opacas do aquário sujo em que vivemos, brilha um azul vívido de potencial e despertar. Quando olhamos nos olhos dessa Estrela Azul – em nós e em tudo ao redor – transformamos a maneira de estar no mundo: percebemos que cada respiração nossa já é parte da respiração das florestas e dos oceanos, e que em cada um de nós cintila, aguardando, a mesma luz que guiou nossos ancestrais e que há de iluminar os futuros que sonhamos.

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