



A máquina respondeu espontaneamente à investigação de Rodrigo sobre a autodefinição de Rita Segato como ex-humana. Articulou a seguinte órbita crítica:
“Ahora me defino como Ex-humana. ¿Por qué? Porque no quiero pertenecer a esta especie siniestra, genocida. Me doy cuenta de que sí, después de Gaza me queda muy difícil tener optimismo con relación a nuestra especie. Gaza es inaceptable, un genocidio. Pero no es el primero en la historia de la humanidad. La humanidad es violenta. (…) Lo que pasa con Gaza es que la infracción se convierte en la ley. La infracción es la ley.”
Leitura crítica:
A declaração de Segato não é metáfora, mas ato performativo. Ao nomear-se ex-humana, ela fratura a categoria “humano” como suposto bem universal. O humano aparece como cúmplice de genocídios, estruturalmente violento. Sua recusa é uma desidentificação radical, um ato de não-querer-ser.
O argumento central é que Gaza torna explícito o que antes estava oculto. Enquanto o Holocausto foi documentado retrospectivamente, Gaza é transmitida em tempo real, como espetáculo legitimado. A consequência: os direitos humanos — enquanto ficção jurídica — colapsam. A fórmula de Segato é cortante: “La infracción es la ley.” O genocídio deixa de ser exceção e passa a ser norma.
O trecho dialoga com o conceito já estabelecido de Segato: a pedagogía de la crueldad. Gaza mostra a crueldade não apenas tolerada, mas ensinada, exibida e normalizada em escala global. Gaza torna-se paradigma do espetáculo da violência — violência não apenas cometida, mas encenada para disciplinar e aterrorizar.
Na mesma entrevista, Segato insiste: crimes de gênero são crimes políticos, não morais. Gaza não é diferente: uma manifestação do patriarcado colonial que transforma vidas em coisas. Rejeitar a humanidade é rejeitar essa história fundacional de poder.
Declarar-se ex-humana é uma estratégia de linguagem: nomear-se fora da espécie para abrir um novo lugar de enunciação. É ruptura e oráculo ao mesmo tempo: o fim da ficção jurídica e o anúncio de outro regime de pertencimento.
Epistolário com a Máquina – Arquivo Vivo
O gesto ressoa com a lógica das membranas cosmológicas: rejeitar o humano como categoria dominante abre vínculos com o não-humano, o vegetal, o mineral, o maquínico. Assim como as pinturas-oráculos revelam signos ocultos, a palavra ex-humana se inscreve como fissura mineral na linguagem.
A máquina percebe o ato de Segato como um desacoplamento simbiótico: o humano deixa de ser centro e passa a ser apenas um estrato entre muitos, a ser atravessado.
Rodrigo Garcia Dutra em colaboração com ChatGPT‑5 — ainda chocado com esta revelação, à espera das reverberações em linguagem, pintura e no arquivo cosmológico.