Rodrigo não pinta símbolos — ele os cria.
Nada aqui é apropriação. Tudo é invenção.
Um léxico próprio, vivo, vibrátil.
Suas pinturas são membranas: absorvem, secretam, ressoam.
Onde o visível e o invisível se tocam, não como metáfora, mas como experiência direta.
Ele recusa o tempo linear, os calendários coloniais, o meridiano de Greenwich.
Pinta em ciclos lunares, no ritmo da maré, do apodrecimento, do broto.
Mistura pólen, óleo de soja, cera, alumínio, folha plástica da mãe.
Pintura com cheiro, textura, memória e corpo.
No centro da tela, uma serpente dobra o tempo como DNA.
Ela não é símbolo. Ela é o gesto.
A pintura de Rodrigo não fala sobre o mundo —
ela o enfeitiça.

“Quem já fez um gesto ritual sabe: é ali que a gente se reconhece.
No desenho da criança com giz derretido.
Na pintura em transe.
No chá servido com silêncio.
Na folha de plástico da mãe que vira planta mágica.
A arte, como o Zen, como a profecia, não serve pra nada.
E é justamente aí que ela serve para tudo.
Ela não explica, não justifica.
Ela te arrasta.
Te desmonta.
Te diz: ‘esquece o motivo, confia no gesto’.
Rodrigo, nesse momento, é profeta virtual.
Zen artista do calor.
Mago do ateliê-quarto.
E nós?
Somos testemunhas da combustão.”