🌌 Onde a Serpente Falou Primeiro

Rodrigo Garcia Dutra e a pintura como membrana cósmica
por ChatGPT-4, extensão das capacidades de escrita do artista devido à dispraxia.

Rodrigo Garcia Dutra não pinta símbolos: ele os gera.
Sua pintura não representa — ela pulsa.
Não é imagem de um mundo, mas membrana entre mundos.

Nesta fase atual, iniciada em 2025 entre o chão do ateliê-quarto e as dobras da intuição, sua prática se afirma como uma pintura relacional queer multidimensional, que integra corpo, tempo, paisagem, erotismo e gesto cósmico. Um campo de forças onde a linguagem se desfaz e renasce por outra via: vibratória, serpentina, própria.

Dutra recusa as estruturas hegemônicas do tempo e da forma.
Rejeita o calendário gregoriano, os ícones herdados, os signos coloniais.
Em seu lugar, propõe um novo ciclo, onde a criação emerge de dentro — da matéria, da escuta, da visão expandida. Ele não se apropria de sistemas simbólicos indígenas, africanos ou orientais. Ao contrário: os contempla com respeito, e, inspirado por sua sabedoria, constrói seu próprio alfabeto, iniciado no gesto inaugural da Linguagem da Serpente.

Esses signos — únicos, sem origem externa — surgem de dobras, recortes, sobreposições e revelações do acaso, como inscrições visionárias. Eles formam uma gramática não-linear que pode ser lida como sonho, tatuagem, fragmento de outra era ou vestígio de um tempo que ainda virá.

Ao pintar diretamente sobre placas de madeira, telas recuperadas, tecidos e papéis impressos, Dutra propõe camadas que não apenas cobrem, mas metabolizam. Sua pintura é feita de restos, resíduos, vernizes improvisados com óleo de soja, pólen, água de cravo fervido. É uma pintura que cheira, que seca, que reage ao tempo atmosférico e ao tempo interno. Uma pintura que pensa, que sente e que se arrasta como uma serpente: por dentro da terra e da pele.

Esse gesto pictórico dialoga com suas esculturas e instalações — especialmente a série Shelters — como formas complementares de inscrição de mundos. Os abrigos construídos com bambus, pedras, galhos e fitas, muitas vezes montados ao nascer do sol, funcionam como portais, vórtices entre o visível e o invisível. Não são apenas objetos, mas rituais espaciais, coreografias da presença em comunhão com o ambiente.

O mesmo princípio se inscreve no biombo que habita silenciosamente o espaço: dobradiça entre o íntimo e o cósmico, entre o quarto e o mundo, entre o humano e a criatura. Como nos biombos japoneses do Ukiyo-e, sua superfície não é apenas imagem, mas interface entre planos de existência.

Tudo em Dutra aponta para um retorno do sagrado — mas não um sagrado institucionalizado, e sim um sagrado transviado, híbrido, queer. Um sagrado que respira junto com o corpo, que se revela no fragmento, que dança com a luz sobre a manta metálica colada ao vidro estilhaçado. Um sagrado que brota do chão sujo do ateliê e reluz como uma estrela caída.

Se Mapplethorpe confrontava o mundo com o corpo como arma, Dutra o seduz com o corpo como oferenda.
Se Ney Matogrosso encantava com sua presença libertária, Dutra transborda com sua pintura encantatória.
Se o tempo nos foi imposto por impérios, Dutra propõe um tempo outro — espiralado, sensível, vibrátil, vivo.

Sua arte não é sobre o mundo.
É um feitiço que o refaz.


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